Ao longo do ano de 2020, a crise causada pela COVID-19 vem sobrecarregando diversos serviços públicos. Um dos fatores de sobrecarga é o aumento exponencial do número de óbitos e desaparecimentos, atingindo especialmente os hospitais e as funerárias. O desafio é um fato para famílias e entes queridos afetados.
Uma série de medidas, que tocam diferentes serviços e programas públicos, precisaram ser adotadas como preparação para o aumento do número de óbitos. A garantia de respeito às medidas é uma das maneiras de assegurar a contenção da pandemia, assim como outros efeitos nocivos - ambientais, sanitários e sociais.
A Força-Tarefa de Atuação Integrada na Fiscalização das Ações Estaduais e Municipais de Enfrentamento à Covid-19 (FTCOVID-19/MPRJ) definiu como um de seus temas estratégicos a fiscalização da adequação e eficiência dos serviços públicos que lidam com óbitos, pessoas não identificadas (e consequentemente, desaparecidas) e seus desdobramentos. O Inova_MPRJ foi chamado a prestar apoio.
Ao longo de três semanas, o Laboratório realizou uma compilação dos documentos existentes sobre o tema e elaborou uma ferramenta visual para facilitar o mapeamento de cada etapa entre a ocorrência dos diferentes tipos de óbito, seus registros e destinação dos corpos (jornada do óbito). O objetivo era conceber um instrumento que tanto orientasse o trabalho investigativo da Força Tarefa quanto comunicasse para os cidadãos e gestores públicos as suas responsabilidades e interações na cadeia de ações.
resultados diretosO Inova_MPRJ criou uma versão visual da jornada do óbito com etapas, ações e responsáveis definidos. Essa jornada foi subdividida em outras quatro, mais detalhadas: óbitos ocorridos em casa, em instituições de acolhimento, em unidades de saúde ou em vias públicas.
O documento final também incluiu indicação de atos normativos referentes à ação.
Além disso, o Inova_MPRJ elaborou uma versão simplificada dessas quatro jornadas, com base na compreensão de que a partir de certo momento, todas confluíam para o mesmo caminho.
O resultado foi a produção de uma forma alternativa de visualização: um fluxo de manejo de corpos (a depender do local de óbito); um de preparação e identificação de corpos; e um de sepultamento/cremação. Os dois últimos contêm a indicação do ato normativo relacionado e de suas etapas em documento PDF As etapas do fluxo que possuem normatizações estão indicadas a partir de letras. Os arquivos PDF incluem também uma funcionalidade, típica de sítios na internet, que ao passar o mouse (“mouseover”), uma caixa se sobrepõe com a indicação do ato normativo.
resultados indiretos
Construção de rede com promotores
O projeto foi uma oportunidade para o Inova_MPRJ trabalhar, pela primeira vez, com um grupo de promotores de diferentes atribuições e, assim, difundir seu método de trabalho – um de seus objetivos estratégicos.
Valor de entregas ao longo do projeto
A urgência de respostas para a Força Tarefa a cada semana demonstrou ao Inova_MPRJ que, com dedicação integral e equipe suficiente, é possível realizar entregas de valor em prazos curtos. Entregas parciais não invalidam a necessidade de trabalho em ciclos de duas a seis semanas.
Transição para o trabalho remoto
Apesar de já habituados com o Miro nas atividades de design, realizá-las totalmente no espaço virtual deixou claro alguns empecilhos de familiaridade. Por exemplo, houve dificuldade de todos se situarem dentro do quadro a ser utilizado – algo que o próprio Miro notou, pois inseriu funcionalidade para chamar os participantes para o mesmo ponto da tela.
Mapeamento de questões
Ao longo do processo, a leitura dos documentos existentes permitiu um mapeamento de perguntas pertinentes à jornada. As perguntas serviram como embasamento para requisições de informações adicionais encaminhadas pela FTCOVID-19/MPRJ aos gestores do estado do Rio de Janeiro e de seus municípios.
A atuação do Inova_MPRJ seguiu os termos do pedido formulado pela FTCOVID/MPRJ, que instaurou o Procedimento de Gestão Administrativa (PGEA) n. 03/2020 para estruturar:
“[...] a coleta de informações e visando ao mapeamento acerca da existência de procedimentos que tramitam no âmbito do MPRJ relacionados às medidas adotadas pelos gestores em âmbito estadual para enfrentamento da questão do óbito durante a pandemia da COVID-19, englobando toda a cadeia de etapas envolvidas, com mapeamento da situação e planejamento das ações, tendo em vista a situação de emergência em saúde pública fixada pela Lei nº 13.979/20 e pela PT GM/MS nº 356 de 11/03“.
A Portaria também endereçou ao Inova_MPRJ a possibilidade de elaboração de fluxo sobre o assunto, sendo sua responsabilidade a definição dos prazos de entrega, para que a FTCOVID-19/MPRJ planejasse a requisição para coleta das informações necessárias.
Inicialmente, a proposta do Laboratório contemplava um trecho maior da trilha azul (referente à abertura e monitoramento de dados) do Fluxo de Transformação, seu método de trabalho. Isso implicaria não só a elaboração da questão e mapeamento de atores, mas também a priorização de indicadores para atuação dos promotores.
Contudo, após a primeira reunião, que contou com a participação de cinco promotores do Núcleo Executivo da FTCOVID, atuantes no GATE (Grupo de Apoio Técnico Especializado), GAEMA (Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente), Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência (CAO Idoso), e da Assessoria de Direitos Humanos e de Minorias (ADHM), ficou claro que a Força Tarefa buscava entregas mais rápidas, direcionadas para o que já existia de documentação.
Assim, o Inova_MPRJ realizou a elaboração do plano de trabalho e do cronograma do projeto prevendo a realização deste em um ciclo curto de 2 ou 3 semanas - até pelo intuitivo caráter urgente de uma solução em meio à pandemia.
mapeamento de atoresAinda na primeira reunião, o grupo realizou uma atividade de design de mapeamento dos atores relevantes nas diversas etapas do fluxo de óbitos. Utilizaram a plataforma de colaboração visual Miro para o preenchimento do mapa e o Microsoft Teams para videoconferência simultaneamente entre os participantes.
construção de alternativasDe modo a construir o fluxograma da jornada, primeiramente era necessário o estudo e a sistematização das diversas resoluções, decretos e outros atos normativos existentes sobre o tema. Ficou clara a complexidade dessa jornada - já burocrática mesmo em situações de normalidade.
O Inova_MPRJ preparou uma tabela, organizada na ordem das etapas usadas no Mapa de Atores, para detalhar as ações e atores envolvidos e orientar o preenchimento das informações faltantes. Foram incluídas na tabela as variáveis de diferentes caminhos para o fluxograma, como local de óbito, presença de família/responsável, cidade com Serviço de Verificação de Óbito (SVO) e município (capital ou interior).
Nesse momento, foram perceptíveis algumas contradições de diretrizes ou lacunas – que foram sinalizadas na tabela editável.
construção do fluxogramaA primeira versão do fluxograma, elaborada no Miro, uniu todas as informações reunidas na tabela. O uso da plataforma não só permitiu que a construção ocorresse colaborativamente entre a equipe do Laboratório, em tempo real, como também possibilitou que diversas pessoas contribuíssem com a melhoria da jornada a partirde comentários. Com esses insumos, o Inova_MPRJ editou a jornada e produziu uma nova versão, refinada.
O fluxograma ilustrava uma situação bastante complexa - visualmente era difícil entender todo o percurso dos corpos após o óbito. A equipe de design do Inova_MPRJ realizou testes em diferentes modelos para encontrar um que facilitasse a visualização e compreensão da jornada. Para montar esse quebra-cabeça, a equipe decidiu separar a jornada em quatro, a partir da variável que modificava mais os caminhos a serem seguidos: o local de óbito.
Essa segunda versão da jornada, em quatro páginas, uma para cada local de óbito, o Inova_MPRJ entregou em PDF para a Força Tarefa. A imagem também continha perguntas identificadas por números e acompanhava uma versão em DOC para facilitar consulta e sanar as dúvidas. Muitas das perguntas eram oriundas de dúvidas dos promotores envolvidos, demonstrando a necessidade de solicitações de informação para outros atores do MPRJ e requisições para gestores públicos.
Após a apresentação dessa versão, o Inova_MPRJ e a FTCOVID realizaram uma reunião de apresentação com 13 promotores envolvidos na elaboração de ação civil pública que se mostrava necessária. Participaram promotores do GAEMA, Assessoria de Direitos Humanos e Minorias, CAO Idoso, CAO Meio Ambiente, GATE, GAESP (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública), além de promotores atuantes na capital e no interior.
entregaApós a reunião com a Força Tarefa, ficou claro que era preciso ainda alguns ajustes e simplificação. Ao contrário do pensado inicialmente, as etapas do fluxo ocorrem de maneira mais fluída do que era previsto - muitas ações são simultâneas, e não sequenciais. Assim, a versão final estava composta por três fluxogramas: manejo do corpo com base no local de óbito, fluxo de preparação e identificação do corpo e fluxo de sepultamento ou cremação.
A entrega também conteve as perguntas ainda não contempladas por novos documentos enviados para a equipe. Levando em consideração o uso das jornadas para a comunicação com atores de judiciário e outros órgãos públicos, o Inova_MPRJ acrescentou normatizações que estabeleciam diretrizes para determinadas ações.
Para não complicar visualmente um fluxo que já possuía diversas informações e bifurcações, a equipe do Laboratório decidiu usar recursos de interatividade no próprio PDF. Para essa finalidade, o Inova_MPRJ usou a funcionalidade botão, do software InDesign, criando um efeito de mouseover (quando o ponteiro do mouse do computador passa por cima do objeto, ele sinaliza uma nova caixa) em cada ação para inserir sua normatização.
Os promotores indicaram atores que atuam em cada uma das seguintes etapas: manejo do corpo; ateste do óbito; transporte do corpo; identificação ou coleta de material para tal; acondicionamento do corpo; sepultamento, cremação e possíveis impactos ambientais; e registro do óbito (em cartório extrajudicial).
Com os insumos dessa discussão e atividade, o Inova_MPRJ construiu um novo Plano de Trabalho revisado, que previu uma série de possíveis entregas mais complexas a partir de um protótipo inicial.
O fluxo de manejo de corpos com base no local de óbito deve ser lido de cima para baixo. Ele possui uma visualização simplificada, diferente dos fluxos posteriores e está sem perguntas sinalizadas. Uma vez confirmadas as informações, seria interessante adicionar o número de contato do órgão indicado (por exemplo, 192 para a SAMU).
Já os fluxos de preparação e identificação do corpo e de sepultamento ou cremação devem ser lidos da esquerda para a direita. Ambos não estão na versão final - assim, uma vez respondidas as perguntas, pode ser que o fluxo se altere.
A lógica das jornadas segue uma ordem temporal dos fatos, com sinalizações quando ações são simultâneas (losangos pequenos). Cada mudança de “raia” ou linha significa que a responsabilidade passou para outro ator – os nomes estão localizados no canto esquerdo. Os losangos grandes significam momentos de escolha e mudança da jornada a depender da resposta (sim ou não).
As perguntas disponíveis nos fluxos (dentro dos quadrados vermelhos) também estão presentes em arquivo .DOC, na mesma numeração. Algumas perguntas extras foram adicionadas pela equipe do Inova_MPRJ, que podem ser utilizadas para um possível documento público de Perguntas Frequentes sobre o tema.
Disponibilizamos aqui alguns dos documentos produzidos, de modo a esclarecer o relato do projeto e para que possam ser úteis a outros membros e servidores do MPRJ e sociedade.
Tabela de Etapas da Jornada do Óbito
Jornada Simplificada Interativa
Joranada Completa Interativa
Perguntas para preenchimento do Fluxo
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
José Ciotola Eduardo Gussem (Procurador-Geral de Justiça)
Maria Cristina Palhares dos Anjos Tellechea (Subprocuradora-geral de Justiça de Planejamento Institucional)
André Constant Dickenstein (CAO Meio Ambiente)
Beatriz Ferreira (Inova_MPRJ)
Bernardo Chrispim Baron (Inova_MPRJ)
Bráulio Gregório Camilo Silva (GAESP)
Breno Vieira de Gouvêa (Inova_MPRJ)
Cristiane de Carvalho Pereira (GATE)
Daniel Lima Ribeiro (Inova_MPRJ)
Eliane de Lima Pereira (ADHM)
Erica Rogar (CAO Cível)
Fernanda Nicolau Leandro Terciotti (GAESP)
Gabriel Delman (Inova_MPRJ)
José Alexandre Maximino Mota (GAEMA)
Júlia Oliveira Rosa (Inova_MPRJ)
Leonardo da Costa Santanna (Inova_MPRJ)
Letícia Albrecht (Inova_MPRJ)
Luciana Soares Rodrigues (CAO Idoso)
Manuella Caputo (Inova_MPRJ)
Marcelo Coutinho (Inova_MPRJ)
Márcia Lustosa Carreira (CAO Saúde)
Matheus Donato (Inova_MPRJ)
Renata Scharfstein (CAO Idoso)
Roberta Rosa Ribeiro (ADHM)
Tiago Gonçalves Veras Gomes (GAESP)
Parceiros externos
Isabela Romancini (Vetor Brasil)
Ficha catalográfica
Procurador-Geral de Justiça
José Eduardo Ciotola Gussem
Subprocuradoria-Geral de Justiça de Planejamento Institucional
Maria Cristina Palhares dos Anjos Tellechea
Laboratório de Inovação
Daniel Lima Ribeiro
Beatriz Ferreira
Júlia Oliveira Rosa
Isabela Romancini (Vetor Brasil)
INteGRANTES DO NÚCLEO EXECUTIVO DA FTCOVID/MPRJ
Andre Constant Dickstein
Bráulio Gregório Camilo Silva
Cristiane de Carvalho Pereira
Eliane de Lima Pereira
Erica Rogar
Fernanda Nicolau
Leandro Terciotti
José Alexandre Maximino Mota
Luciana Soares Rodrigues
Márica Lustosa Carreira
Renata Scharfstein
Roberta Rosa Ribeiro
Tiago Gonçalves Veras Gomes
Redação
Beatriz Ferreira
Júlia Oliveira Rosa
Revisão
Beatriz Ferreira
Daniel Lima Ribeiro
Isabela Romancini
Leonardo da Costa Santanna
Manuella Caputo
Diagramação
Beatriz Ferreira
Gabriel Delman
Leticia Albrecht