EIXO3-Carlos Leandro Reginaldo

Carlos Leandro Reginaldo

Atualmente com 49 anos
Campos dos Goytacazes

Carlos nasceu em 15 de outubro de 1975, em Campos dos Goytacazes e viveu uma infância marcada por dificuldades: a ausência de energia elétrica no bairro, a distância da escola e a perda precoce da mãe e da avó, ambas responsáveis por sua criação, juntamente com seu pai.

Carlos conta que sua mãe trabalhava na plantação de cana de açúcar, mas sempre o incentivou muito a ler e estudar. Foi ela, inclusive, a responsável pela sua alfabetização, o que permitiu que Carlos ingressasse na escola, aos 7 anos, em série mais avançada. Aos 10, começou a trabalhar como leiteiro para ajudar no sustento da família, conciliando o trabalho com as aulas. Mudou-se depois para Miguel Pereira, onde conheceu sua esposa, aos 15 anos de idade, com quem é casado há 27 anos.

Carlos foi o primeiro de sua família a alcançar o ensino superior: graduou-se em física, matemática, Administração Pública e Direito, além de obter o título de Mestre em Políticas Públicas em Educação pela Universidade de Santiago do Chile. Ele foi o primeiro de sua família a obter formação em nível superior.

Atualmente, é pai de quatro filhos, todos no ensino superior: uma filha que cursa Direito no CEFET, outra concluindo medicina na Universidade de Vassouras, um filho em formação universitária e uma filha mais nova, de 17 anos, também ingressando nessa etapa. Carlos valoriza os momentos em família, gosta de estudar, ler, nadar e passear com a esposa.

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O crime

À época, Carlos era Subcoordenador da Secretaria Geral de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Em dia de agenda intensa, precisou solicitar uma viatura oficial para deslocamento em serviço. O então Gerente de Frotas, ocupante de cargo comissionado e militar reformado, negou a liberação do veículo sob a condição de que Carlos cortasse o cabelo.

Ao responder que não cortaria, por ser parte de sua identidade como homem negro, ouviu nova negativa. A discriminação o abalou profundamente, gerando crises de pânico e comprometendo suas atividades.

Mesmo levando o caso à Presidência e à Corregedoria do Tribunal, revela que não recebeu o devido acolhimento. A apuração disciplinar demorou a ser instaurada e foi inicialmente conduzida por membros que haviam servido as Forças Armadas em patente inferior à do autor da ofensa. Somente após pressão do Ministério Público e da imprensa foi que o caso avançou, resultando em confissão e celebração de Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), que levou à exoneração do autor do fato.

Carlos, entretanto, nunca recebeu um pedido formal de desculpas - nem do agressor, nem da chefia institucional. Ressente-se da exposição sofrida, apesar de ser a vítima, e da falta de amparo naquele momento.

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As consequências do crime - o que fica

O episódio deixou marcas profundas. Além dos efeitos psicológicos imediatos, Carlos sentiu-se por muito tempo desamparado e desrespeitado. Ainda assim, demonstrou resiliência: destinou a indenização pecuniária a entidades sociais ligadas à pauta racial e, sob nova gestão no Tribunal, retomou plenamente sua vida funcional.

Atualmente, exerce a Chefia da Seção de Pessoal do TCE-RJ, onde é reconhecido por sua competência e dedicação. A superação do episódio, embora não tenha apagado a dor da violência sofrida, reafirma sua trajetória de resistência, marcada pelo compromisso com a justiça, a educação e a dignidade.