EIXO3-Luis Carlos Cavalini da Silva

Luiz Carlos Cavalini da Silva

Atualmente com 49 anos
Rio de Janeiro

Luiz Carlos nasceu em 14 de setembro de 1996, em São João de Meriti, Rio de Janeiro, e viveu sua infância e juventude em Ricardo de Albuquerque, zona norte da cidade.

Desde pequeno, amava estudar e sonhava em ser professor. Durante o ensino médio, percebeu afinidade com o Direito e, após tentativas no ENEM, ingressou na UERJ em 2017, sonhando inicialmente em ser delegado. Contudo, sua trajetória acadêmica foi marcada pela descoberta da paixão pelo Direito Civil, especialmente após assistir aulas com a professora Maria Celina Bodin de Moraes.

Filho único, foi criado por sua mãe solo, que se empenhou para que ele permanecesse na universidade. Luiz destaca que a experiência universitária mudou sua vida, mas também lhe trouxe consciência das desigualdades, ao conviver com colegas de realidades muito mais privilegiadas. Formou-se em 2022 e hoje atua como advogado corporativo, especializado em direito digital, contratos e propriedade intelectual. Gay assumido desde a adolescência, sempre teve uma rede de apoio: sua mãe e seus amigos o acolheram plenamente em sua orientação sexual.

Entre seus hobbies, gostava de dançar e sempre esteve cercado de amigas mulheres, mantendo um convívio social leve e alegre.

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O crime

O episódio de violência ocorreu em uma academia, durante um dia comum de treino. Luiz usava roupas simples - short, blusa e tênis - e, entre um exercício e outro, usou o celular para cumprimentar um amigo pelo aniversário.

Nesse momento, um homem, sem qualquer motivo, começou a ofendê-lo com xingamentos homofóbicos, chamando-o de "veado", "bicha" e "florzinha". O agressor ainda o ameaçou dizendo que bateria em sua cabeça com uma barra de ferro caso ele continuasse respondendo.

Luiz chamou a polícia, mas, mesmo com a chegada dos agentes, o agressor manteve o deboche e não sofreu qualquer medida imediata. Conduzidos juntos para a delegacia - vítima e agressor no mesmo carro da polícia - Luiz vivenciou um atendimento desrespeitoso.

Na delegacia, o agressor, militar, foi tratado com privilégios. O inspetor tentou dissuadir Luiz a não registrar ocorrência e enquadrou os fatos como crime de menor potencial ofensivo. Em razão do conhecimento jurídico que possuía, Luiz conseguiu contato com o Ministério Público, que readequou a tipificação para injúria, levando o processo adiante.

Luiz ressalta que nunca havia tido contato prévio com o agressor, que não o conhecia e nem tinha qualquer desavença: as ofensas foram proferidas simplesmente por ele ser negro e gay.

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As consequências do crime - o que fica

O episódio marcou profundamente Luiz, que decidiu se mudar para São Paulo em busca de maior acolhimento e respeito, considerando o Rio de Janeiro um Estado mais hostil para pessoas negras e LGBT+.

Ele destaca a indiferença das pessoas presentes no momento da agressão. Nenhuma delas interveio ou manifestou solidariedade. Essa ausência de apoio reforçou sua sensação de vulnerabilidade e ampliou sua hiper vigilância cotidiana.

Além disso, o caso expôs de forma dolorosa o despreparo da polícia e a falta de acolhimento institucional. Luiz foi tratado de forma ríspida em seu retorno à delegacia e até ameaçado de prisão por insistir em seus direitos como vítima.

Hoje, como advogado, ele busca transformar essa experiência em força para enfrentar o preconceito estrutural que permeia sua vida. Ainda que sofra pequenos atos discriminatórios diariamente - de olhares suspeitos em lojas a desconfianças profissionais - Luiz resiste e segue construindo sua trajetória, sem abrir mão de sua identidade como homem negro e gay.