EIXO3-Reinaldo de Souza Netto

Reinaldo de Souza Netto Junior

10 de setembro de 2000
Duque de Caxias

Reinaldo de Souza Netto Junior cresceu na cidade e construiu toda a sua vida ali. Em 2019, ingressou na Aeronáutica, onde atuou como soldado e conquistou sua independência financeira. Contudo, sua permanência foi marcada por episódios de racismo dentro do quartel. Chegou a cogitar denunciar as práticas discriminatórias, mas foi intimidado por um superior, que o alertou de que estaria lutando contra todo um sistema. Esse episódio o fez decidir pela saída, em abril de 2023.

Após deixar a Aeronáutica, passou a trabalhar em um salão recém-inaugurado em Ipanema, no cargo de garçom e, depois, como assistente de cabeleireiro. Reinaldo é jovem, dedicado, estudioso ¿ atualmente cursa Psicologia pelo PROUNI ¿ e sempre sonhou em ocupar espaços de forma digna, construindo seu futuro com esforço próprio.

EIXO3-Reinaldo de Souza Netto

O crime

Durante o período em que trabalhou no salão, Reinaldo foi alvo de sucessivos episódios de racismo, praticados principalmente por uma colega de trabalho e tolerados pela gerência. A cabeleireira fazia comentários depreciativos, dizendo que cabelos de pessoas negras as ¿deixavam com cara de pobre¿ ou ¿de porco¿. Em diversas ocasiões, questionava sua capacidade profissional e se referia ao seu cabelo como ¿africano¿, associando-o a imagens de crianças desnutridas na África, em tom pejorativo. 
 
Em um episódio, quando Reinaldo foi promovido a assistente de cabeleireiro, ao atender uma cliente branca, ouviu insinuações de que não teria competência para lidar com outros tipos de cabelo. O gerente, em vez de apoiá-lo, o repreendeu, dizendo que deveria ¿saber se comportar em outros ambientes¿. No mesmo dia, disse que sua roupa o fazia parecer ¿um aluno de escola pública¿. 
 
Os episódios continuaram em novembro de 2023, quando, após receber de um amigo uma banana, ouviu da colega: ¿vai comer banana, macaquinho? Você não sabia que você vem do macaco?¿. A ofensa explícita o fez se retirar do local chorando. Ao relatar o fato, ouviu da administração que nada seria feito. Somente após registrar ocorrência na delegacia a funcionária foi suspensa por 15 dias. 
 
Ainda assim, a violência não cessou. No Dia da Consciência Negra, o salão exibiu, sem consentimento, fotos de funcionários pretos em um telão, exigindo que desfilassem por um tapete vermelho, em uma espécie de exposição humilhante. Reinaldo recusou-se a participar, mas sua foto ficou em exibição durante todo o dia, sob comentários de que os funcionários pretos eram ¿ingratos¿. 
 
Em janeiro de 2024, com a venda do salão, a nova proprietária chegou a referir-se a ele como ¿mucambo¿, reforçando a associação racista e vexatória. Diante desse ambiente hostil e insuportável, Reinaldo pediu demissão, em junho de 2024, às vésperas da audiência do processo criminal, em trâmite até hoje. 

EIXO3-Reinaldo de Souza Netto

As consequências do crime - o que fica

As agressões racistas deixaram marcas profundas em Reinaldo. Ele passou a se questionar sobre o merecimento de ocupar determinados espaços de trabalho e convívio, desenvolvendo insegurança estética e medo constante de não ser aceito em ambientes frequentados por pessoas brancas. Relata viver em estado de hipervigilância, receoso de reviver as mesmas humilhações. 
 
Chegou a procurar atendimento psicológico através do NAV, em Vila Isabel, mas, pela baixa frequência das consultas, interrompeu o acompanhamento. A experiência o levou a pedir demissão do salão, optando por atuar como cabeleireiro freelancer, sem local fixo, o que tornou sua inserção no mercado ainda mais difícil. 
 
Apesar de todas as dificuldades, Reinaldo segue estudando Psicologia e busca estágios na área, como forma de ressignificar sua dor e transformar sua trajetória. Ainda enfrenta as consequências emocionais e financeiras da violência sofrida, mas mantém o desejo de reconstruir sua vida com dignidade.