EIXO3-Roberta Gonçalves Gomes

Roberta Gonçalves Gomes

Atualmente com 29 anos
Rio de Janeiro

Roberta nasceu em 22 de março de 1996, em Itaguaí, na Baixada Fluminense. A mãe se afastou quando ela tinha 7 anos, mas Roberta foi criada com afeto e orientação por seu pai, Marco Antônio, e por Rafaela, que sempre lhe dizia para "colocar a cara no mundo".

Desde muito cedo sentia que seu corpo biológico não correspondia à sua identidade. Inspirada por sua irmã, Rafaela, começou a usar roupas femininas e a se afirmar como Roberta, recebendo apoio fundamental da família, especialmente do pai e dos irmãos.

Em 2010, Roberta iniciou a terapia hormonal de forma independente, já que os serviços públicos ainda não tinham estrutura adequada para atender pessoas trans. Em 2012, começou a perceber mudanças em seu corpo. Tentou cursar Educação Física, mas desistiu após três períodos por falta de identificação com o ambiente.

Roberta, então, passou a trabalhar como recepcionista e, após o falecimento precoce de Rafaela, em 2018, buscou novos caminhos. Em 2020, iniciou sua retificação civil e, no ano seguinte, ingressou como recepcionista na Casa da Mulher, onde também realizou cursos de empreendedorismo, administração, arte e cultura.

Em 2022, passou a integrar a Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual (CDS Rio), dentro do Palácio da Cidade. Hoje, atua no CREAS Padre Guilherme Decaminada, como educadora social e promotora da cidadania, sendo uma referência no acolhimento e na garantia de direitos da população LGBTQIA+.

Roberta se tornou exemplo de resistência e inspiração, usando sua história para transformar a vida de outras pessoas em situação de vulnerabilidade.

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O crime

Na noite de 18 de outubro de 2022, ao chegar em casa, Roberta foi surpreendida por uma prima, que, alcoolizada, passou a ofendê-la com palavras transfóbicas, negando sua identidade e dizendo que preferia que ela não existisse. A agressora dizia, ainda, que Roberta era um mau exemplo para crianças, pelo seu jeito de se vestir e se comportar.

Enquanto a vítima tentava dialogar e reafirmar sua identidade, a filha da prima entregou-lhe uma faca, sendo Roberta, então, atingida em seu pescoço, mediante um golpe grave que quase atingiu sua artéria.

Roberta, ainda assim, conseguiu pedir socorro e foi levada ao Hospital Municipal Pedro Segundo, onde passou por um procedimento de sutura, levando, ao total, 20 pontos - 10 internos e 10 externos. Roberta conta que o médico que a atendeu afirmou que ela sobreviveu por muito pouco e que sua vida certamente tinha um propósito. A vítima é até hoje grata pelo apoio clínico e emocional que esse médico lhe ofereceu.

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As consequências do crime - o que fica

O episódio marcou profundamente sua vida. Roberta, que sempre se doou aos outros, passou a ter mais cautela e desconfiança em relação às pessoas. Ainda assim, encontrou forças para transformar a dor em luta.

Acolhida pelo Centro de Cidadania Rio LGBT Sem Fobia, Roberta reafirmou seu compromisso com a militância e o acolhimento de pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade. Ela acredita que sobreviveu porque ainda tem uma missão: dar voz, apoio e esperança àqueles que enfrentam preconceito e violência.

Roberta é, hoje, referência de coragem, superação e solidariedade. Sua trajetória mostra a importância do respeito, da diversidade e do combate às violências motivadas pelo preconceito.