Anderson Pedro Mathias Gomes

Anderson Pedro Mathias Gomes
Anderson Gomes nasceu no Rio de Janeiro e construiu sua vida pautada em dedicação, parceria e afeto. Era um homem alegre, cativante, de brilho natural, capaz de conquistar amizades por onde passava. Em 2014 casou-se com Ágatha, com quem construiu uma história marcada por união, companheirismo e grandes conquistas. O casal montou junto seu primeiro apartamento, em Engenho da Rainha, celebrando cada etapa da vida a dois.
Anderson sempre foi muito dedicado ao trabalho, mas não abria mão de estar presente nos momentos importantes da família. Apoiou Ágatha durante a graduação em Direito e sempre incentivou seus projetos. Desejava intensamente ser pai e comemorou com emoção a chegada do primeiro filho, Arthur.
A gestação não foi fácil: ainda no início, foi detectada uma má formação abdominal que exigiria cuidados especiais. Anderson, contudo, manteve-se firme, transmitindo fé e esperança à família. Durante os 28 dias de internação do filho na UTI neonatal, ele não se afastou um só instante. Consagrou Arthur todos os dias a Nossa Senhora Desatadora dos Nós e chamava o menino de "Arthurzão", em referência à sua força. Essa presença afetuosa e protetora marcou a memória de Ágatha, que se recorda com carinho desses momentos de coragem e amor.
Anderson sonhava em acompanhar o crescimento do filho, levá-lo aos eventos da família e participar de cada conquista. Sua vida foi interrompida quando ainda tinha muito a oferecer como marido, pai e cidadão.
O Crime
No início de 2016, Anderson, desempregado, foi indicado por um amigo para trabalhar como motorista em campanhas políticas. Pouco tempo depois, substituiu um colega que atuava como motorista da vereadora Marielle Franco. Sua dedicação e seriedade abriram caminho para que passasse a acompanhá-la de forma permanente.
Na noite de 14 de março de 2018, Anderson dirigia o carro que levava Marielle e sua assessora, Fernanda Chaves, após um compromisso político no centro do Rio de Janeiro. O veículo foi emboscado e alvejado por tiros. Marielle e Anderson foram assassinados de forma brutal, em um crime que abalou o país e repercutiu internacionalmente.
A execução covarde silenciou duas vozes: a de uma parlamentar que se dedicava à defesa dos direitos humanos e a de um pai que tinha na família seu maior orgulho. Anderson não estava em um confronto, não era alvo de investigações, apenas exercia sua função de motorista. Sua morte simbolizou a vulnerabilidade de tantos trabalhadores honestos que se tornam vítimas da violência.
As consequências do crime - o que fica
A notícia do assassinato de Anderson devastou sua família. Ágatha recebeu a informação em casa, no meio da madrugada, e imediatamente pensou em como criaria sozinha o filho pequeno, que necessitava de cuidados especiais. O choque, o vazio e a paralisia diante da perda marcaram seus primeiros dias.
A mãe de Anderson, profundamente religiosa, recusou-se a aceitar a partida do filho. A dor se espalhou entre todos os familiares, que se viram diante da ausência de um homem carinhoso, presente e amado por todos.
Para Ágatha, a vida se transformou em um caminho imposto: criar Arthur sozinha, tomar decisões difíceis sobre sua saúde e enfrentar uma rotina de lutas sem a presença do companheiro que sempre esteve ao seu lado. Seis meses após o crime, Arthur precisou de uma cirurgia de emergência, e a ida ao hospital, sem Anderson, representou um dos momentos mais dolorosos de sua nova realidade.
A perda também trouxe exposição pública, com a família sendo constantemente chamada a participar de mobilizações pela elucidação do crime. O luto, que deveria ser íntimo, tornou-se atravessado por uma longa e dolorosa espera por justiça.
Anderson permanece vivo na memória da esposa, do filho e de todos que o conheceram como um homem íntegro, parceiro e dedicado à família. Sua ausência continua sendo sentida todos os dias, mas seu legado de afeto e esperança permanece como inspiração.