Tim Lopes

Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento
Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, mais conhecido como Tim Lopes. Filho de militar do Exército, cresceu entre transferências constantes, até que, em 1962, a família se fixou no Rio de Janeiro, no morro da Mangueira. Orgulhava-se de ser 'cria da Mangueira', apaixonado por samba e torcedor fervoroso do Vasco da Gama, time que via como símbolo de inclusão por ter aberto espaço a jogadores negros.
Ainda jovem, começou a trabalhar como office boy na Bloch Editores, de Samuel Wainer. Foi ali que escreveu sua primeira matéria, sobre um acidente no Aterro do Flamengo. Por sugestão dos colegas, adotou o nome 'Tim Lopes', inspirado em seu apelido de juventude, uma referência ao cantor Tim Maia. Desde então, seu estilo direto, com gírias e coloquialismos, passou a marcar seus textos.
Nos anos 1970, formou-se em jornalismo pela FACHA e passou por redações como O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de S. Paulo, Veja e pelo jornal alternativo Repórter, criado em plena ditadura militar. Foi premiado ainda no JB e, depois, em O Dia, com a histórica reportagem ¿É Festa, É Fúria, É Funk¿, sobre os bailes funk no Rio de Janeiro. Em meados dos anos 1990, passou a colaborar com a TV Globo, onde se efetivou em 1996, trabalhando para o Fantástico e consolidando sua carreira como repórter investigativo.
Apesar da fama, nunca perdeu a simplicidade. Levava crianças da vizinhança ao Maracanã, dava atenção às pessoas comuns e tinha uma preocupação genuína com a juventude e com as comunidades mais vulneráveis. Pai de Bruno, seu único filho, foi carinhoso e presente, transmitindo valores de honestidade, solidariedade e coragem.
O Crime
Em 2001, Tim Lopes produziu a reportagem 'Feirão das Drogas', exibida no Fantástico, na qual mostrou como o tráfico havia se expandido para as ruas do Complexo do Alemão. A matéria revelou traficantes armados e a rotina de violência em meio a crianças e trabalhadores. O trabalho lhe rendeu o Prêmio Esso de Jornalismo, mas também a ira das facções criminosas.
Em 2 de junho de 2002, enquanto investigava denúncias de exploração sexual de adolescentes em bailes funk controlados pelo tráfico, na Vila Cruzeiro, Tim foi reconhecido por criminosos. Capturado, foi levado ao chamado 'microondas' ¿ método de execução bárbaro utilizado por traficantes ¿ e assassinado de forma cruel, sob ordens do então chefe do tráfico.
Sua morte comoveu o país e evidenciou os riscos enfrentados por jornalistas investigativos, tornando-se um marco na luta pela liberdade de imprensa e pelos direitos humanos no Brasil.
As consequências do crime - o que fica
A perda devastou sua família. Sua mãe sofreu intensamente. Bruno, seu único filho, transformou a dor em motivação para seguir os passos do pai e tornar-se jornalista. Ele relata que muitas de suas escolhas profissionais foram influenciadas pelas palavras e pelo olhar atento de Tim, que sempre enxergou nele um talento para a comunicação.
Para o Brasil, a morte de Tim Lopes significou mais do que a perda de um repórter: representou a perda de uma voz comprometida em revelar injustiças sociais, a desigualdade e a violência que marcam a vida de tantas comunidades. Seu legado vive na memória de colegas, familiares e do público que acompanhou seu trabalho. Tim deixou a imagem de um homem íntegro, solidário e transformador, que acreditava no poder do jornalismo como ferramenta de mudança social.