Gabriel dos Santos Vieira

Gabriel dos Santos Vieira
Gabriel nasceu em 16 de setembro de 2007, na Maternidade Carmela Dutra, no Lins, e desde então viveu com sua família no Complexo do Alemão. Desde os primeiros dias de vida, lutou pela sobrevivência: nasceu com problemas respiratórios e permaneceu 19 dias internado. O pai recorda um momento doloroso em que, durante um tiroteio que resvalava no hospital, precisou cercar o berço para proteger o filho dos disparos.
Apesar das dificuldades, Gabriel cresceu como um menino alegre, sempre disposto a fazer todos rirem. Era conhecido por carregar sua caixinha de som para colocar música em qualquer lugar, especialmente quando percebia alguém triste. Gostava de cantar músicas de Alcione, de quem era fã, e sonhava em conhecê-la. Seu grande sonho era estudar música e dança, tornar-se professor e construir uma carreira artística, além de seguir produzindo conteúdo como youtuber.
Gabriel conciliava seus sonhos com o trabalho. Atuava como pizzaiolo, profissão que conseguiu por intermédio do cunhado da mãe, apesar de ainda não ser maior de idade. A mãe conta que os donos da pizzaria, ao descobrirem sua verdadeira idade, decidiram mantê-lo no emprego, tamanha era sua dedicação e o carinho que despertava em todos. Todas as noites, voltava para casa trazendo pizza, gesto que se tornou uma tradição familiar.
Nos intervalos, ajudava a mãe em seu salão de beleza, fazendo tranças, e investia parte de seu tempo reformando o próprio quarto, para transformá-lo em um espaço de gravação para suas lives. Também trabalhava como dançarino em festas, animando plateias com seus passinhos e apresentações. Aos 17 anos, já deixava clara sua determinação em mudar de vida, realizar seus sonhos e "tirar os pais da comunidade", como costumava dizer.
Era vaidoso, gostava de trocar cortes e cores de cabelo, alternando estilos, sempre de forma criativa. Deixou três irmãos - Leonan, de 23 anos; Mateus Felipe, de 14; e Ana Luiza, de 9 - além do sobrinho Theo Leno, ainda bebê, de quem era muito próximo.
O Crime
No dia 30 de abril de 2025, a vida de Gabriel foi interrompida de forma brutal. O adolescente, que se encontrava na garupa de uma moto de aplicativo, foi atingido por disparos, durante uma perseguição policial, no Complexo do Alemão. As investigações ainda estão em andamento.
Seus pais, que sempre temeram que os filhos fossem alvos de preconceito e discriminação, viram o medo concretizado. Após sua morte, familiares ouviram comentários desumanos de que seria "só mais um" e chegaram a ler notícias que o desrespeitavam por sua aparência, ironizando seu cabelo como "cabelo de abacaxi" e associando sua imagem à criminalidade, unicamente pela cor de sua pele e pelo estilo que adotava.
As consequências do crime - o que fica
A perda de Gabriel deixou marcas profundas em toda a família. A mãe, em desespero, alterna momentos de estresse e de culpa, reconhecendo que passou a ser mais impaciente e superprotetora com os outros filhos. Ela, que sempre teve medo de tatuagens, fez uma em homenagem ao filho, superando o receio para mantê-lo eternizado em sua pele.
Ana Luiza, a irmã mais nova, sofreu intensamente com a ausência. Acostumada a esperar Gabriel voltar da pizzaria para colocá-la para dormir, passou meses sem conseguir ir para a cama sozinha. Hoje, tenta se reconfortar afirmando a todos que se parece com o irmão. Já Mateus, de 14 anos, expressa sua dor em silêncio, guardando os sentimentos para si.
Após a morte, a família pôde ver a dimensão do afeto que Gabriel cultivava. Amigos e primos organizaram diversas homenagens. Apresentações de dança foram dedicadas a ele, em especial por suas melhores amigas, Ju e Vitória, e por seus primos Vitor, Marcelly e Graziele, com quem deu seus primeiros passos na dança em festas de família.
Gabriel era um jovem de alegria contagiante, cheio de sonhos e projetos, cuja vida foi interrompida de maneira precoce. Sua ausência deixa um vazio imenso, mas também uma lembrança de talento, dedicação e amor pela família.