EIXO 6 - Maicon de Souza Filho

Maicon de Souza Filho

2 anos
Rio de Janeiro

Maicon de Souza Filho tinha apenas 2 anos quando sua vida foi brutalmente interrompida. Morador da comunidade de Acari, era o mais novo entre os irmãos e passava os dias em brincadeiras simples, como correr pelo beco atrás do irmão Renan e dos amigos, ou mergulhar com ele na piscina de plástico que a mãe havia comprado. Sempre sorridente e cheio de energia, Maicon se destacava pelo carinho que espalhava à sua volta e pela alegria que transmitia às pessoas próximas.

Enquanto Renan, seis anos mais velho, já guardava lembranças mais elaboradas da infância, Maicon vivia o início da descoberta do mundo - entre risos, jogos improvisados com tampinhas e o convívio familiar marcado pela simplicidade.

EIXO 6 - Maicon de Souza Filho

O Crime

Na tarde de 15 de abril de 1996, por volta das 16h45, a tranquilidade da favela foi rompida por disparos de policiais militares do 9º BPM. Maicon e Renan brincavam na porta de casa quando os tiros começaram. Em meio à correria e ao desespero, Maicon foi atingido e tombou no chão, ensanguentado, diante do olhar atônito da comunidade. O pai correu ao ouvir os estampidos e encontrou o filho caído; a mãe, ao se aproximar, tomou-o nos braços em desespero, mas já não havia o que fazer.

Levado com ajuda de moradores ao Hospital Carlos Chagas, Maicon chegou sem vida. No dia seguinte, sua despedida foi marcada pela imagem dolorosa de um pequeno caixão branco levado de volta à comunidade. Vizinhos ainda lavavam o sangue que escorrera pelo beco, numa cena que Renan, então com apenas seis anos, jamais esqueceu.

Apesar da brutalidade do ocorrido, o caso foi registrado como "auto de resistência", expediente usado para encobrir execuções sob a justificativa de confronto. Nenhum dos policiais envolvidos foi responsabilizado, perpetuando a sensação de impunidade.

EIXO 6 - Maicon de Souza Filho

As consequências do crime - o que fica

A morte de Maicon não destruiu apenas a vida de uma criança inocente, mas alterou para sempre os rumos de toda a família. Renan cresceu superprotegido, cercado pelo medo da mãe que, tomada pelo luto, limitava seus movimentos, evitava que fosse a festas e só o permitia estudar em escolas próximas. O pai transformou a dor em militância: passou a lutar diariamente por justiça, realizando vigílias na porta do Ministério Público e transformando essa busca em sua missão de vida.

O trauma também deixou marcas psicológicas: a mãe viveu anos de depressão e hoje convive com sintomas de Alzheimer. Renan, já adulto, emigrou para Portugal em 2015, buscando segurança para si e para os filhos após episódios de violência policial e invasões à sua casa. Lá, conseguiu recomeçar, mas ainda carrega o peso da infância interrompida e da ausência de memórias felizes ao lado do irmão.

Passadas mais de duas décadas, o luto segue sem reparação. O caixão branco de Maicon tornou-se símbolo de uma infância roubada e de uma família devastada pela violência estatal. Para José Luiz, o pai, vigiar e cobrar justiça é manter viva a memória do filho e denunciar, ano após ano, a impunidade que insiste em permanecer.