Wallace Ramos da Silva

Wallace Ramos da Silva
Wallace nasceu e viveu toda a sua vida na Vila do Pinheiro, no Rio de Janeiro. Tinha apenas 16 anos quando foi assassinado.
Era flamenguista fanático, a ponto de fazer sua mãe, Rosileni - antes vascaína - trocar de time. Amava jogar capoeira, futebol e era um artista do grafite. Rosileni guarda até hoje desenhos feitos pelo filho, como lembrança viva de sua criatividade e sensibilidade.
Wallace sonhava em ser paraquedista do Exército. Tinha se inscrito para projetos sociais da Força Aérea e fazia exercícios físicos se preparando para os testes da Brigada Paraquedista. Dizia à mãe que ela ainda o veria saltando do avião e acenando lá de cima.
Estudava à noite, no segundo ano do ensino médio, para poder trabalhar durante o dia e ajudar a sustentar a casa. Atuou como camelô, cobrador de vans e ajudante de pedreiro. Entregava à mãe tudo o que ganhava, sempre com orgulho.
Era filho único de Rosileni, com quem nutria um vínculo profundo. Chamava-a de "baixinha" e era carinhosamente chamado de "bebê", mesmo medindo 1,84m. Amava passeios na Quinta da Boa Vista, onde, quando criança, corria para mergulhar nos lagos do parque.
Após sua morte, a mãe encontrou algum amparo na solidariedade da vizinhança. Durante o luto, conheceu seu futuro marido - que também seria morto anos depois durante uma operação policial. A luta por justiça é o que hoje move Rosileni, transformando sua dor em resistência.
O Crime
Segundo relatos de vizinhos à mãe de Wallace, no dia 05 de outubro de 2005, o menino estaria andando de bicicleta quando foi abordado por uma viatura da PATAMO. Os policiais, então, mandaram que parasse.
Wallace obedeceu, levantou a blusa para mostrar que não estava armado e ergueu as mãos. Um dos agentes, mais baixo que ele, deu-lhe uma rasteira. Wallace caiu ao chão, já chorando, quando foi atingido por dois tiros: um pela nuca, com saída próxima ao rosto, e outro no peito.
Rosileni soube da morte do filho por sua patroa. Quando o viu no IML, o rosto de Wallace estava reconstruído com gesso. Em desespero, tentou cantar para ele a música da Xuxa com que o acordava todas as manhãs - mas, desta vez, Wallace não acordaria mais.
Os agentes envolvidos no caso foram denunciados pelo Ministério Público, estando o processo ainda pendente de julgamento.
As consequências do crime - o que fica
A morte de Wallace devastou sua mãe, que por muito tempo sentiu que não havia mais razão para viver.
A profunda dor da perda, a forma como o crime ocorreu e a ausência de justiça transformaram a vida de Rosileni. Contudo, o apoio de amigos e vizinhos e a vontade de lutar por justiça a impulsionaram a seguir em frente, mesmo carregando marcas irreparáveis.
A história de Wallace tornou-se símbolo da luta contra a violência policial e a letalidade que atinge, sobretudo, jovens negros e pobres das periferias. Sua memória vive na arte que produziu, na alegria que espalhou e na força que deixou em sua mãe, que segue buscando justiça por ele e por tantos outros.