Herus Guimarães Mendes da Conceição

Herus Guimarães Mendes da Conceição
Herus foi fruto de um desejo profundo de sua família. Seu nome foi escolhido por remeter ao deus grego do amor, simbolizando o afeto que representava para todos. Apesar de jovem e criado na comunidade do Santo Amaro, era um rapaz extremamente caseiro. Amava assistir séries e filmes com o filho Theo, com quem se divertia como uma criança.
Flamenguista apaixonado, Herus chorava e discutia pelo time. Também era talentoso no desenho e sonhava em ser designer gráfico, habilidade que desenvolveu em curso pago com esforço pela família. Tinha muitos planos: atuar na área de design de interiores, casar, reformar o quarto para receber Theo e, quem sabe, seguir uma carreira em uma grande empresa.
Era próximo dos pais, com quem partilhava sonhos e segredos. Mônica, sua mãe, era sua melhor amiga, a primeira a saber de sua futura paternidade. O filho não havia sido planejado, mas Herus assumiu a responsabilidade com maturidade, escolhendo o nome Theo e se preparando para ser pai. Também era muito ligado aos avós e admirava o primo João Victor, fotógrafo da mesma comunidade.
Herus participou de projetos comunitários, fez amigos por onde passou e sempre manteve forte ligação com a família. Trabalhava em uma imobiliária com o pai e estava cheio de planos profissionais. Amava as reuniões familiares, especialmente os almoços de domingo e as ceias de Natal e Ano Novo, que fazia questão de celebrar com os pais antes de sair com os amigos. Era um filho dedicado, trabalhador e querido por todos ao seu redor.
O Crime
No dia 7 de junho de 2025, a vida e os sonhos de Herus foram brutalmente interrompidos. Diferente dos temores dos pais de perdê-lo para o tráfico, o jovem foi vítima da violência policial. Naquela noite, participava de um evento cultural tradicional da comunidade Santo Amaro - a quadrilha de festa junina, realizada há mais de 30 anos.
Herus não dançava naquele ano para poupar dinheiro com fantasias, já que assumira a paternidade de Theo. Mesmo assim, estava presente para prestigiar os amigos, ao lado dos pais. Durante o evento, foi até uma barraca comprar comida para si e refrigerante para a mãe. Pouco depois, tiros ecoaram na comunidade, disparados por policiais militares que subiam pelo lado do morro onde não havia incursões habituais.
Herus, vestido de preto, foi atingido pelos disparos sem sequer ter sido abordado. Outras cinco pessoas também foram baleadas. A correria levou dezenas de moradores a se amontoarem em espaços improvisados para escapar da violência.
Policiais arrastaram Herus escada abaixo, impedindo a aproximação de familiares e vizinhos. Mesmo ensanguentado e com ferimento grave no abdômen, foi tratado com deboche: diziam que era 'olheiro do tráfico' e impediam tentativas de socorro. Foram os próprios pais que, desesperados, levaram Herus até um hospital, mas ele não resistiu.
As consequências do crime - o que fica
A morte de Herus abriu um vazio irreparável na vida de sua família. Seus pais, Mônica e Fernando, vivem com a dor de não poderem impedir a tragédia, apesar de todos os cuidados que tiveram para protegê-lo. Restou a convicção de que, se tivesse recebido socorro imediato, Herus poderia ter sobrevivido.
A família clama para que sua memória seja preservada e para que outras mães e pais não passem pela mesma dor. Exigem justiça e mudanças na forma de atuação policial nas comunidades, para que a segurança pública seja exercida com inteligência e respeito à vida, e não com a destruição de famílias inocentes.
Herus era um filho amoroso, um pai presente, um jovem cheio de sonhos interrompidos. Sua lembrança permanece como símbolo de amor, esperança e de luta por justiça, diante da violência sofrida.