José Henrique da Silva

José Henrique da Silva
José Henrique da Silva nasceu na cidade de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte. Porém, mudou-se para o Rio de Janeiro aos 12 anos, vindo a construir grande parte de sua história na Vila do Pinheiro.
Em 2005, José conheceu Rosileni Ramos da Silva, carinhosamente chamada de Rosi, quando ela vivia o luto pelo assassinato precoce de seu filho, Walace. Naquele momento de dor, José passou a ficar ao seu lado, fornecendo apoio e, até mesmo, impedindo a companheira de tirar sua própria vida.
Já em 2006, José e Rosi passaram a morar juntos e, em 2011, finalmente oficializaram o casamento no cartório de Pilares. Rosi conta, com um sorriso estampado no rosto, que José acolheu seus netos, Lynda e Erick, como se fossem seus, acompanhando-os desde a infância.
No lado profissional, José era um homem extremamente trabalhador. Começou atuando como pescador embarcado e, logo após, passou a trabalhar para empresas de grande porte, como bombeiro hidráulico e eletricista. Um acidente de trabalho, contudo, acarretou sua aposentadoria por invalidez. Ainda assim, José seguiu como um homem ativo em sua comunidade, auxiliando sua esposa Rosi na montagem das barracas de espetinhos e bebidas, para que ela vendesse durante os eventos locais.
As lembranças de José, pela família, são de um homem simples, bem-humorado, apaixonado por futebol e torcedor fanático do Flamengo. Na comunidade, era conhecido como "careca", e todos guardam boas lembranças de sua presença. A esposa conta que ele adorava assistir aos jogos de domingo, sempre com um copinho de cerveja na mão. O futebol, contudo, dividia espaço com a música, sendo José um grande fã de Marília Mendonça e Mariah Carey. Nesse ponto, a esposa conta que até hoje guarda um CD de Mariah, se emocionando sempre que ouve a canção "Without You".
Rosi fez questão de ressaltar que José amava animais, já acolheu diversos pela rua e tratava-os como verdadeiros membros da família. Seu maior sonho, que infelizmente não teve tempo de realizar, era retornar à sua cidade natal, Baía Formosa, para visitar o tio que ali morava.
O crime
Em dias de festa na comunidade, o combinado entre José e Rosi era de que ele seria o responsável por montar e desmontar a barraca, enquanto Rosi ficaria no evento, realizando as vendas.
No dia do crime, portanto, José havia montado sua barraca de espetinhos e bebidas, como de costume, e, logo após, retornou ao lar para descansar. Por volta das 4:30h da madrugada, contudo, iniciou-se uma operação policial na Vila do Pinheiro, gerando correria entre os moradores. Dona Rose e um vizinho, Isaque, que trabalhavam na barraca, buscaram abrigo em uma casa próxima, enquanto José foi visto pela última vez em sua moto.
Instantes depois, surgiram relatos de que ele havia sido levado e colocado dentro de um caveirão. Dona Rose tentou contato pelo celular, sem sucesso. Ao procurar informações, ouviu de policiais que verificasse nos hospitais. No Hospital Geral de Bonsucesso, recebeu a notícia de que José estava morto. Sua moto, apreendida e revistada, não apresentava nenhuma irregularidade.
A investigação e o relato dos moradores confirmaram que José não tinha qualquer envolvimento com o tráfico local. No momento da operação, estava apenas a caminho de ajudar sua esposa na desmontagem da barraca. Foi alvejado por policiais que, ao descerem pela Rua B1 em direção à Rua B3, abriram fogo em meio ao tiroteio, atingindo José, que nada tinha a ver com a ação criminosa.
As consequências do crime - o que fica
A morte de José Henrique deixou marcas profundas em sua família e em toda a comunidade. Dona Rose, que já havia perdido o filho Walace em circunstâncias violentas, viu-se novamente diante da dor causada pela violência armada no Rio de Janeiro. Como vítima indireta, encontra forças em sua fé para seguir adiante, mas carrega o desejo constante de ver a Justiça responsabilizar o Estado e os agentes envolvidos. A história de José é também a de muitos inocentes que perderam a vida em operações policiais, tornando sua memória um símbolo da luta contra a violência e da exigência de respeito à dignidade humana.