EIXO1-José Henrique da Silva

José Henrique da Silva

53 anos
Rio Grande do Norte
Não informado
27 de setembro de 2022

José Henrique da Silva nasceu na cidade de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte. Porém, mudou-se para o Rio de Janeiro aos 12 anos, vindo a construir grande parte de sua história na Vila do Pinheiro.

Em 2005, José conheceu Rosileni Ramos da Silva, carinhosamente chamada de Rosi, quando ela vivia o luto pelo assassinato precoce de seu filho, Walace. Naquele momento de dor, José passou a ficar ao seu lado, fornecendo apoio e, até mesmo, impedindo a companheira de tirar sua própria vida.

Já em 2006, José e Rosi passaram a morar juntos e, em 2011, finalmente oficializaram o casamento no cartório de Pilares. Rosi conta, com um sorriso estampado no rosto, que José acolheu seus netos, Lynda e Erick, como se fossem seus, acompanhando-os desde a infância.

No lado profissional, José era um homem extremamente trabalhador. Começou atuando como pescador embarcado e, logo após, passou a trabalhar para empresas de grande porte, como bombeiro hidráulico e eletricista. Um acidente de trabalho, contudo, acarretou sua aposentadoria por invalidez. Ainda assim, José seguiu como um homem ativo em sua comunidade, auxiliando sua esposa Rosi na montagem das barracas de espetinhos e bebidas, para que ela vendesse durante os eventos locais.

As lembranças de José, pela família, são de um homem simples, bem-humorado, apaixonado por futebol e torcedor fanático do Flamengo. Na comunidade, era conhecido como "careca", e todos guardam boas lembranças de sua presença. A esposa conta que ele adorava assistir aos jogos de domingo, sempre com um copinho de cerveja na mão. O futebol, contudo, dividia espaço com a música, sendo José um grande fã de Marília Mendonça e Mariah Carey. Nesse ponto, a esposa conta que até hoje guarda um CD de Mariah, se emocionando sempre que ouve a canção "Without You".

Rosi fez questão de ressaltar que José amava animais, já acolheu diversos pela rua e tratava-os como verdadeiros membros da família. Seu maior sonho, que infelizmente não teve tempo de realizar, era retornar à sua cidade natal, Baía Formosa, para visitar o tio que ali morava.

EIXO 1 José Henrique da Silva

O crime

Em dias de festa na comunidade, o combinado entre José e Rosi era de que ele seria o responsável por montar e desmontar a barraca, enquanto Rosi ficaria no evento, realizando as vendas.

No dia do crime, portanto, José havia montado sua barraca de espetinhos e bebidas, como de costume, e, logo após, retornou ao lar para descansar. Por volta das 4:30h da madrugada, contudo, iniciou-se uma operação policial na Vila do Pinheiro, gerando correria entre os moradores. Dona Rose e um vizinho, Isaque, que trabalhavam na barraca, buscaram abrigo em uma casa próxima, enquanto José foi visto pela última vez em sua moto.

Instantes depois, surgiram relatos de que ele havia sido levado e colocado dentro de um caveirão. Dona Rose tentou contato pelo celular, sem sucesso. Ao procurar informações, ouviu de policiais que verificasse nos hospitais. No Hospital Geral de Bonsucesso, recebeu a notícia de que José estava morto. Sua moto, apreendida e revistada, não apresentava nenhuma irregularidade.

A investigação e o relato dos moradores confirmaram que José não tinha qualquer envolvimento com o tráfico local. No momento da operação, estava apenas a caminho de ajudar sua esposa na desmontagem da barraca. Foi alvejado por policiais que, ao descerem pela Rua B1 em direção à Rua B3, abriram fogo em meio ao tiroteio, atingindo José, que nada tinha a ver com a ação criminosa.

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As consequências do crime - o que fica

A morte de José Henrique deixou marcas profundas em sua família e em toda a comunidade. Dona Rose, que já havia perdido o filho Walace em circunstâncias violentas, viu-se novamente diante da dor causada pela violência armada no Rio de Janeiro. Como vítima indireta, encontra forças em sua fé para seguir adiante, mas carrega o desejo constante de ver a Justiça responsabilizar o Estado e os agentes envolvidos. A história de José é também a de muitos inocentes que perderam a vida em operações policiais, tornando sua memória um símbolo da luta contra a violência e da exigência de respeito à dignidade humana.