eixo 4 - Christine Lagos Simões

Christine Lagos Simões

Atualmente com 48 anos
Rio de Janeiro

Christine Lagos Simões nasceu em 21 de maio de 1977, no Rio de Janeiro, filha de mãe grega e pai brasileiro. Cresceu em um ambiente familiar rígido, marcado por traumas dos avós maternos imigrantes no pós-guerra, e por uma dinâmica doméstica com baixa disponibilidade emocional dos pais. Teve na irmã mais velha uma figura de proteção e referência, enquanto Christine assumia, desde cedo, o papel do cuidado e da escuta.

Brilhante e disciplinada, estudou em escola bilíngue, graduou-se em Direito, concluiu mestrado em Londres e alcançou posição de destaque como diretora jurídica de uma multinacional, com excelente remuneração e benefícios. Mãe de dois filhos, projetava, no espaço público e profissional, força, autonomia e sucesso. No privado, porém, vivia sob controle, cerceamento e hostilidade do marido ¿ realidade que, com o tempo, impactou gravemente sua saúde física e mental, culminando em diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático complexo.

eixo 4 - Christine Lagos Simões

O Crime

O relacionamento iniciou-se quando Christine tinha 18 anos. Desde o namoro, houve controle e vigilância: perseguição de carro, exigências de horários e gastos, explosões de ciúme e xingamentos. Vivia uma violência psicológica e patrimonial que se agravou após o casamento. O marido impunha rotinas humilhantes, vigiava despesas e frequentemente interferia na vida profissional, inclusive aparecendo em viagens e em seu escritório. Em casa, não era diferente. O marido a pressionava para interromper o anticoncepcional e, por diversas vezes, forçava relações sexuais. Com o nascimento dos filhos, a violência se estendeu às crianças, que sofriam com tapas, apertões e xingamentos.

Após anos de escalada e isolamento social, Christine pediu o divórcio. Quando o ex-marido passou a persegui-la em locais púbicos, obteve medida protetiva. Ainda assim, a violência continuou através da disputa pela guarda e visita das crianças: atrasos deliberados, impedimento de contato materno, agressões verbais e físicas contra os filhos e uso das crianças para atingi-la. Os efeitos à saúde de Christine se intensificaram, enquanto laudos psicológicos indicavam sofrimento das crianças.

Christine reuniu atestados médicos e psicológicos, mensagens, testemunhas e o próprio relato da filha pedindo ajuda. Houve, então, denúncia ao ex-marido por violência psicológica. O agressor foi condenado, com confirmação pelo Tribunal de Justiça, após recurso do acusado.

Pouco depois da condenação, o agressor deixou o país levando a filha, valendo-se de autorização de viagem previamente obtida. Christine tentou impedir judicialmente a saída, mas a restrição foi negada sob o argumento de ausência de prova de fuga definitiva. A Polícia Federal confirmou o embarque internacional do pai com a adolescente.

Atualmente, o ex-marido retornou ao Brasil e, mesmo com a fixação de guarda compartilhada e regulamentação de visitas, Christine continua impedida de ver sua filha.

eixo 4 - Christine Lagos Simões

As consequências do crime - o que fica

Christine segue em tratamento psicoterápico, mas retomou a carreira em uma empresa com liderança feminina, que a acolhe. O filho permanece em acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Sobre a filha, Christine luta, junto à Vara de Família, para restabelecer o convívio e assegurar sua proteção.

Mesmo com a ferida aberta da violência psicológica ¿ e com a dor adicional do afastamento forçado da filha ¿, Christine transformou a experiência em ação coletiva: fundou o Instituto SerEla e atua voluntariamente promovendo palestras e cursos sobre violência doméstica, orientando vítimas sobre seus direitos e fortalecendo redes de acolhimento. Sua trajetória evidencia que a violência psicológica é crime, com efeitos profundos e duradouros, sendo, contudo, frequentemente invisibilizada.

Este memorial registra a mulher que Christine é para além da vitimização: mãe, profissional de excelência e agente de transformação que, apesar do trauma, insiste em reconstruir a própria vida e proteger seus filhos. Ela afirma, com coragem, que o amor e a justiça precisam chegar aonde, por tanto tempo, só houve medo e silêncio.