Christine Lagos Simões

Christine Lagos Simões
Christine Lagos Simões nasceu em 21 de maio de 1977, no Rio de Janeiro, filha de mãe grega e pai brasileiro. Cresceu em um ambiente familiar rígido, marcado por traumas dos avós maternos imigrantes no pós-guerra, e por uma dinâmica doméstica com baixa disponibilidade emocional dos pais. Teve na irmã mais velha uma figura de proteção e referência, enquanto Christine assumia, desde cedo, o papel do cuidado e da escuta.
Brilhante e disciplinada, estudou em escola bilíngue, graduou-se em Direito, concluiu mestrado em Londres e alcançou posição de destaque como diretora jurídica de uma multinacional, com excelente remuneração e benefícios. Mãe de dois filhos, projetava, no espaço público e profissional, força, autonomia e sucesso. No privado, porém, vivia sob controle, cerceamento e hostilidade do marido ¿ realidade que, com o tempo, impactou gravemente sua saúde física e mental, culminando em diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático complexo.
O Crime
O relacionamento iniciou-se quando Christine tinha 18 anos. Desde o namoro, houve controle e vigilância: perseguição de carro, exigências de horários e gastos, explosões de ciúme e xingamentos. Vivia uma violência psicológica e patrimonial que se agravou após o casamento. O marido impunha rotinas humilhantes, vigiava despesas e frequentemente interferia na vida profissional, inclusive aparecendo em viagens e em seu escritório. Em casa, não era diferente. O marido a pressionava para interromper o anticoncepcional e, por diversas vezes, forçava relações sexuais. Com o nascimento dos filhos, a violência se estendeu às crianças, que sofriam com tapas, apertões e xingamentos.
Após anos de escalada e isolamento social, Christine pediu o divórcio. Quando o ex-marido passou a persegui-la em locais púbicos, obteve medida protetiva. Ainda assim, a violência continuou através da disputa pela guarda e visita das crianças: atrasos deliberados, impedimento de contato materno, agressões verbais e físicas contra os filhos e uso das crianças para atingi-la. Os efeitos à saúde de Christine se intensificaram, enquanto laudos psicológicos indicavam sofrimento das crianças.
Christine reuniu atestados médicos e psicológicos, mensagens, testemunhas e o próprio relato da filha pedindo ajuda. Houve, então, denúncia ao ex-marido por violência psicológica. O agressor foi condenado, com confirmação pelo Tribunal de Justiça, após recurso do acusado.
Pouco depois da condenação, o agressor deixou o país levando a filha, valendo-se de autorização de viagem previamente obtida. Christine tentou impedir judicialmente a saída, mas a restrição foi negada sob o argumento de ausência de prova de fuga definitiva. A Polícia Federal confirmou o embarque internacional do pai com a adolescente.
Atualmente, o ex-marido retornou ao Brasil e, mesmo com a fixação de guarda compartilhada e regulamentação de visitas, Christine continua impedida de ver sua filha.
As consequências do crime - o que fica
Christine segue em tratamento psicoterápico, mas retomou a carreira em uma empresa com liderança feminina, que a acolhe. O filho permanece em acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Sobre a filha, Christine luta, junto à Vara de Família, para restabelecer o convívio e assegurar sua proteção.
Mesmo com a ferida aberta da violência psicológica ¿ e com a dor adicional do afastamento forçado da filha ¿, Christine transformou a experiência em ação coletiva: fundou o Instituto SerEla e atua voluntariamente promovendo palestras e cursos sobre violência doméstica, orientando vítimas sobre seus direitos e fortalecendo redes de acolhimento. Sua trajetória evidencia que a violência psicológica é crime, com efeitos profundos e duradouros, sendo, contudo, frequentemente invisibilizada.
Este memorial registra a mulher que Christine é para além da vitimização: mãe, profissional de excelência e agente de transformação que, apesar do trauma, insiste em reconstruir a própria vida e proteger seus filhos. Ela afirma, com coragem, que o amor e a justiça precisam chegar aonde, por tanto tempo, só houve medo e silêncio.
