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Karen Mancini

Rio de Janeiro

Karen sempre foi reconhecida por sua inteligência e dedicação. Desde cedo, destacava-se como a melhor aluna da turma, frequentemente escolhida como oradora, referência para professores e colegas. Era um ano e três meses mais velha que a irmã Caroline, com quem foi criada quase como gêmea. 

Cursou Economia na UFF, mas decidiu mudar para a Contabilidade, em uma faculdade voltada para concursos públicos. Desde então, passou a se dedicar intensamente à carreira pública. Sua facilidade de aprendizado era tanta que ajudava a irmã e amigos nos estudos, explicando matérias complexas de forma didática. 

Ao longo de sua trajetória, foi aprovada em 16 concursos, atuou como auditora da FINEP e, em seguida, alcançou o grande sonho de sua vida: o cargo de auditora do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Sua competência a tornou referência em controle externo e, além de exercer suas funções, fundou um curso preparatório que formou diversos aprovados. 

Karen também era muito próxima da família, especialmente de Caroline. Gostava de organizar festas, viajar e estar cercada de amigos. Alegre e carismática, iluminava os ambientes por onde passava. Educada pela mãe, América, para ser independente, construiu sua vida profissional com esforço, dedicação e solidariedade, sempre ajudando familiares e amigos a alcançarem seus objetivos.

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O crime

Em 2018, a vida de Karen foi marcada por sucessivas perdas: a separação conjugal e, pouco depois, o falecimento de seus pais, em um intervalo de apenas três meses. Fragilizada, iniciou um relacionamento abusivo com o homem que se tornaria seu algoz.

O agressor rapidamente passou a morar em sua casa, controlando sua rotina e suas finanças. Ficava com seus cartões, contraiu dívidas em seu nome e a expôs a agressões físicas e psicológicas. Durante anos, administrou medicamentos controlados sem prescrição médica e incentivou o uso abusivo de álcool, o que comprometeu a saúde física e mental de Karen.

A família e amigos intervieram diversas vezes. Karen chegou a registrar pedido de medida protetiva e internou-se para tratar a dependência. Contudo, fragilizada, retomou o contato com o agressor. Já afastada de sua rede de apoio, foi submetida a episódios de violência cada vez mais graves.

Em seu último dia, Karen foi brutalmente espancada dentro de casa, em Lumiar. O laudo de necropsia registrou mais de 120 lesões pelo corpo, sendo cerca de 30 apenas no rosto, confirmando a extrema violência a que foi submetida. A causa da morte foi traumatismo craniano.

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As consequências do crime - o que fica

A morte de Karen deixou um vazio irreparável. Para sua irmã Caroline, o luto começou muito antes do feminicídio, durante os seis anos em que viu a irmã ser consumida por um relacionamento abusivo. A violência culminou em sua morte trágica, intensificando o trauma.

Caroline relata pesadelos recorrentes, nos quais revive a cena do espancamento e tenta, em sonho, defender a irmã. Desde então, precisou recorrer à terapia e ao tratamento psiquiátrico para lidar com a dor e a ansiedade.

A família luta pela condenação do agressor como forma de alcançar justiça e encerrar um ciclo de sofrimento que parece interminável. Enquanto não houver uma resposta efetiva do sistema de justiça, a sensação de impunidade renova o medo e a angústia.

O legado de Karen é de dedicação, solidariedade e brilho intelectual. Ela transformou a vida de muitas pessoas ao seu redor e deixou uma marca de excelência e humanidade. Sua ausência, contudo, é sentida diariamente, e sua memória permanece como símbolo da urgência de combater a violência contra a mulher e proteger vítimas em situação de vulnerabilidade.