Notícia
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O que antes era um corredor no edifício-sede do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro transformou-se em um local de reflexão e emoção na tarde desta quarta-feira (01/10), com a inauguração do Memorial Vidas Marcadas. O novo espaço busca dar visibilidade e valor às vítimas de violência e a seus familiares, conscientizar sobre os impactos da criminalidade na sociedade e sensibilizar os integrantes do sistema de Justiça. Cada parede do memorial carrega muito mais do que fotografias: são histórias e vidas de pessoas que tiveram suas trajetórias interrompidas ou impactadas por diferentes formas de violência no Rio de Janeiro. A abertura contou com a presença de vítimas, familiares e diversas autoridades, em uma demonstração de respeito e compromisso com a memória coletiva.
Entre os presentes, Débora Luanda, mãe de Ian da Silva Dias, morto aos 21 anos por três disparos feitos pela polícia durante uma operação em Niterói. Para ela, o memorial terá valor renovado sempre que tocar alguém sobre a violência, especialmente aqueles que detêm poder para agir e para transformar essa realidade. “Nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar perder meu filho da forma que foi, um jovem atípico, com autismo de suporte, 20 parafusos na coluna”, disse Débora Luanda, emocionada, mas também esperançosa. “Gostaria dele aqui ao meu lado, mas sou grata e estou profundamente emocionada com essa homenagem. O NAV sempre me acolheu, apoiou e auxiliou. E agora faz essa homenagem que me toca ainda mais.”
Para o procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, o Ministério Público faz um resgate histórico ao inaugurar o memorial: “Nossa sociedade, em uma completa inversão de valores, por muito tempo deu espaço para a criminalidade e relegou as vítimas ao mais absoluto esquecimento", avaliou Antonio José. "Esse memorial evidentemente não vai cessar a dor, o sofrimento e a angústia daqueles que perderam parentes. Mas é uma forma de o Estado reconhecer seu dever de acolher as vítimas, ouvi-las e tê-las próximas de nós. E dar a elas a resposta que merecem, com o esclarecimento dos fatos e a punição dos responsáveis”, concluiu.
Carlos Leandro, auditor do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, vítima de racismo em 2023 e um dos retratados no memorial, destacou que a violência não é apenas física, mas também moral e psicológica: “É importante que não esqueçamos que esses crimes acontecem, que permaneçam em nossa memória para continuarmos em busca de políticas públicas de enfrentamento. Este é um espaço importantíssimo”, disse.
Organizado pela Subprocuradoria-Geral de Direitos Humanos e Proteção à Vítima e pelo Núcleo de Apoio às Vítimas (NAV/MPRJ), o memorial está estruturado em seis eixos: violência de gênero; crimes de ódio; confrontos armados e letalidade policial; agentes de segurança vitimados; criminalidade organizada e violência urbana; e infâncias perdidas. Em cada eixo, há um convite à reflexão a partir de depoimentos, fotografias e registros de vítimas e familiares, muitos deles já atendidos pela equipe técnica do NAV/MPRJ.
A procuradora de Justiça Patrícia Glioche destacou o papel do memorial como espaço de valorização e acolhimento das vítimas: “Esse memorial traz a história de cada uma dessas vítimas, pessoas que ficaram marcadas depois de sofrer um crime, pessoas que tinham sonhos e ideais. Aqui há tanto histórias de vítimas vivas quanto de vítimas falecidas. Nós estamos aqui para valorizar essas pessoas, reconhecer a dor e acolher a todos, papel fundamental do Ministério Público.”
Idealizado pelo PGJ, a iniciativa foi inspirada no memorial criado pelo Instituto Libera, na Itália, que homenageia as vítimas da máfia e busca conscientizar a sociedade civil sobre o combate ao crime organizado. No Brasil, a exposição optou por dar visibilidade a uma parte da história do estado. O procurador da República na Itália, Francesco Menditto, lembrou que o combate ao crime em seu país carrega uma história de inúmeras vítimas, magistrados, policiais e civis inocentes: “Essas foram as pessoas que pagaram o preço mais caro", disse Francesco, antes de ressaltar: "Mas a pessoa mais importante desta cerimônia não é nenhuma autoridade aqui presente. É o garoto de sete anos, parente de uma vítima, que simboliza verdadeiramente a vontade das vítimas de participar e de superar uma dor imensa.”
O Memorial Vidas Marcadas contou com a produção da Coordenadoria de Comunicação Social (CODCOM/MPRJ), da Gerência de Portal e Programação Visual (GPPV/MPRJ) e da Secretaria de Engenharia e Arquitetura (SEA/MPRJ).
Veja mais imagens da inauguração.
Por MPRJ

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