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Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
            na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes


            g)  Atendimento técnico às crianças e adolescentes e familiares:

                   Verificou-se ausência de equipe técnica nos seguintes clubes e organizações sociais: clube
            de futebol C, clube amador A e nas escolinhas de futebol A e B. Dentre os clubes que recebem
            adolescentes de outros municípios e estados na condição de residentes, foi possível observar entraves
            no trabalho desenvolvido pelas equipes técnicas no que diz respeito a promoção da: convivência
            familiar; comunitária; e na articulação com a rede de proteção e de atendimento socioassistencial
            e de saúde do território. Tal cenário indica percursos a serem percorridos no tocante a atuação das
            equipes técnicas para garantir acesso do adolescente a direitos básicos.

                   Outro aspecto importante que incide diretamente na qualidade do acompanhamento é
            a  ausência  ou  fragilidade  de  articulação  entre  equipe  técnica  e  comissão  técnica  esportiva.  Nas
            incursões ministeriais aos clubes de futebol que contam com profissionais de serviço social, psicologia e
            pedagogia, identificou-se, a partir das narrativas dos técnicos, que há uma dificuldade de comunicação
            e alinhamento do trabalho entre estes dois importantes setores responsáveis pelo acompanhamento
            aos adolescentes durante sua trajetória no clube. Este fator favorece somente a perspectiva do
            rendimento e não considera o sujeito como um todo - englobando a perspectiva biopsicossocial.

                   Nesta direção, deve-se entender que o suporte à família e o planejamento do atendimento
            individualizado pode favorecer, para além da garantia de seus direitos, a construção de identidade
            desses adolescentes. A partir dessa perspectiva, nas visitas técnicas pode-se identificar ainda como
            incipientes as estratégias traçadas no intuito de mitigar esse distanciamento, tanto quanto para a
            promoção e fortalecimento dos vínculos afetivos.


                   Observam-se ainda ausências de gestões no processo de desligamento do adolescente do
            clube, que se dá por critério exclusivamente do rendimento técnico, sem planejamento de ações
            pelas equipes técnicas para a preparação da saída do adolescente do clube de forma a minimizar os
            impactos que serão gerados na subjetividade destes adolescentes, na convivência comunitária e na
            reorganização de seus planos de vida.

                   Destaca-se, em face da mais recente vistoria realizada no clube de futebol D, foi possível
            observar avanços nas estratégias utilizadas para atenção aos aspectos mencionados. Porém, o
            deslocamento entre municípios e estados dos adolescentes que residem no clube por si só já impacta
            de forma significativa a convivência familiar, sendo possível observar ainda desafios neste sentido.




                3.  DESAFIOS NA RELAÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E

                    ADOLESCENTES E O VIÉS MERCADOLÓGICO





                   Considerando a relevância  do monitoramento das ações desenvolvidas  com crianças
            e adolescentes pelos organismos de controle social que integram o SGDCA, clubes e demais
            organizações sociais movimentam-se de forma incipiente no que tange a apresentação de seus
            programas de trabalho junto aos conselhos de direitos de crianças e adolescentes com vistas
            a regularização do registro e dos programas de atendimento. Ressalta-se, no entanto, que as
            deliberações deste órgão sobre o tema não abarcam integralmente as particularidades atinentes a
            esta inserção do público infanto-juvenil em atividades desportivas de alto rendimento e de cunho
            explicitamente mercadológico que se materializa pela futura inserção no mercado de trabalho.



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