Page 141 - Experiências de atuação Pedagogia Psicologia Serviço Social
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Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes
g) Atendimento técnico às crianças e adolescentes e familiares:
Verificou-se ausência de equipe técnica nos seguintes clubes e organizações sociais: clube
de futebol C, clube amador A e nas escolinhas de futebol A e B. Dentre os clubes que recebem
adolescentes de outros municípios e estados na condição de residentes, foi possível observar entraves
no trabalho desenvolvido pelas equipes técnicas no que diz respeito a promoção da: convivência
familiar; comunitária; e na articulação com a rede de proteção e de atendimento socioassistencial
e de saúde do território. Tal cenário indica percursos a serem percorridos no tocante a atuação das
equipes técnicas para garantir acesso do adolescente a direitos básicos.
Outro aspecto importante que incide diretamente na qualidade do acompanhamento é
a ausência ou fragilidade de articulação entre equipe técnica e comissão técnica esportiva. Nas
incursões ministeriais aos clubes de futebol que contam com profissionais de serviço social, psicologia e
pedagogia, identificou-se, a partir das narrativas dos técnicos, que há uma dificuldade de comunicação
e alinhamento do trabalho entre estes dois importantes setores responsáveis pelo acompanhamento
aos adolescentes durante sua trajetória no clube. Este fator favorece somente a perspectiva do
rendimento e não considera o sujeito como um todo - englobando a perspectiva biopsicossocial.
Nesta direção, deve-se entender que o suporte à família e o planejamento do atendimento
individualizado pode favorecer, para além da garantia de seus direitos, a construção de identidade
desses adolescentes. A partir dessa perspectiva, nas visitas técnicas pode-se identificar ainda como
incipientes as estratégias traçadas no intuito de mitigar esse distanciamento, tanto quanto para a
promoção e fortalecimento dos vínculos afetivos.
Observam-se ainda ausências de gestões no processo de desligamento do adolescente do
clube, que se dá por critério exclusivamente do rendimento técnico, sem planejamento de ações
pelas equipes técnicas para a preparação da saída do adolescente do clube de forma a minimizar os
impactos que serão gerados na subjetividade destes adolescentes, na convivência comunitária e na
reorganização de seus planos de vida.
Destaca-se, em face da mais recente vistoria realizada no clube de futebol D, foi possível
observar avanços nas estratégias utilizadas para atenção aos aspectos mencionados. Porém, o
deslocamento entre municípios e estados dos adolescentes que residem no clube por si só já impacta
de forma significativa a convivência familiar, sendo possível observar ainda desafios neste sentido.
3. DESAFIOS NA RELAÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E O VIÉS MERCADOLÓGICO
Considerando a relevância do monitoramento das ações desenvolvidas com crianças
e adolescentes pelos organismos de controle social que integram o SGDCA, clubes e demais
organizações sociais movimentam-se de forma incipiente no que tange a apresentação de seus
programas de trabalho junto aos conselhos de direitos de crianças e adolescentes com vistas
a regularização do registro e dos programas de atendimento. Ressalta-se, no entanto, que as
deliberações deste órgão sobre o tema não abarcam integralmente as particularidades atinentes a
esta inserção do público infanto-juvenil em atividades desportivas de alto rendimento e de cunho
explicitamente mercadológico que se materializa pela futura inserção no mercado de trabalho.
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