Page 138 - Experiências de atuação Pedagogia Psicologia Serviço Social
P. 138
Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes
b) Perfil do público atendido
Quanto ao perfil do público atendido, os Clubes e entidades visitadas atendem público
com organização de faixa etária distinta. Essa organização se estende por categorias conforme o
ano de nascimento e pode abranger desde os 6 anos até os 17 anos, não excetuando a convivência
destes com jovens até 20 anos, sobretudo nos clubes que oferecem residência.
As seis entidades visitadas juntas atendiam o total de 1.310 crianças e adolescentes, sendo
95 na condição de residentes permanentes nos clubes de futebol A, B e D e na escolinha de futebol
A. Destes 95 residentes, aproximadamente 50% tinham origem em estados de todas as regiões do
país e 50% em municípios do interior fluminense. Cabe destacar que este quantitativo pode ser
maior em caso de existência de adolescentes acomodados em residências de terceiros, fora dos
clubes, em situações não informadas.
Ainda cabe mencionar que cerca de 600 crianças e adolescentes passam mensalmente
pelas peneiras dos clubes de futebol B, C e D, considerando ainda a ausência deste dado não
informado pelo Clube de Futebol A e Clube Amador A e que as escolinhas de futebol não realizam
esta atividade seletiva, embora realizem inscrições por demanda direcionada.
Outro aspecto que se relaciona com o perfil dos adolescentes, sendo de extrema importância
para compreender como o viés mercadológico incide sobre a vida desses adolescentes, se
materializa pela análise educacional. Sobre essa discussão, Melo, Soares e Rocha(2014) apresentam
no artigo “Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro”, após
a realização de pesquisa quantitativa e qualitativa com jogadores das categorias de base, inscritos
no ano de 2009 na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que:
Se compararmos a distribuição dos anos de escolaridade dos atletas separados pelo
“status” do clube, observaremos que os atletas dos clubes pequenos apresentam
mais anos de escolaridade. Na categoria sub-13, a diferença é de 0,4 anos a mais
para os clubes pequenos. Na sub-15, há um empate. Na sub-17 e sub-20, os clubes
pequenos voltam a apresentar vantagem, 0,6 e 0,4 anos, respectivamente.
(...) A exigência, dedicação, disciplina e competição presente no processo de formação
no futebol, talvez, incida no foco que o atleta tenha no processo de escolarização. O
progresso no processo de profissionalização condiciona de certa forma a escolha
do turno escolar. Se tomarmos o consumo cultural dos atletas, observaremos que a
leitura não foi efetivamente socializada entre eles e o hábito de estudar se faz presente
num baixo percentual. Entre o contingente da nossa amostra, 63,3% indicaram que
raramente ou nunca leem livros e apenas 13,9% declararam que estudam para as provas
ou fazem as tarefas escolares passadas para casa. Tais proporções sugerem um baixo
investimento na incorporação de capital cultural e na dedicação aos estudos e tarefas
escolares. Em contraposição, quando o assunto é consumo do futebol, 88,2% afirmaram
que sempre assistem partidas de futebol na televisão. (MELO, SOARES E ROCHA, 2014)
Os dados apresentados pelos autores em relação ao perfil educacional dos atletas em
formação no Estado do Rio de Janeiro expressam importantes obstáculos no diálogo entre o
projeto de profissionalização e o processo de escolarização.
c) A garantia da convivência familiar e comunitária
Constatou-se que há prejuízo da convivência familiar nos clubes e organizações sociais que
ofertam residência aos adolescentes. Observou-se que os clubes de futebol A, B e D ofertavam
138