Page 144 - Experiências de atuação Pedagogia Psicologia Serviço Social
P. 144

Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
            na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes


                    As notícias veiculadas através dos principais meios de comunicação sobre o incêndio ocorrido
            no Centro de Treinamento George Helal, conhecido como Ninho do Urubu do Clube de Regatas
            do Flamengo, no dia 08 de fevereiro de 2019, que culminou na morte de 10 (dez) adolescentes que
            residiam nos alojamentos do clube, fizeram o futebol de base ganhar novamente visibilidade nas
            principais mídias. Dentre os principais debates à época figuravam as condições de acomodação
            oferecidas pelo clube, o distanciamento da convivência familiar, a imprecisão da quantidade de
            meninos que estavam no alojamento e as dificuldades do clube para atendimento às exigências
            necessárias ao funcionamento que previam a emissão de certificados de órgãos como o Corpo de
            Bombeiros, as áreas de vigilância da prefeitura municipal e o próprio CMDCA.

                   Tendo em vista a gravidade do acontecimento e o acúmulo de informações decorrentes
            da experiência de elaboração de estudos técnicos sobre a temática, a equipe técnica do CAOPJIJ
            participou de reuniões de assessoramento aos representantes ministeriais no concernente à
            participação em audiências e proposições técnicas ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)
            firmado com vistas ao processo de adequação do clube para desenvolver atividades com crianças
            e adolescentes. Esse assessoramento consistiu também na participação para contribuições em
            reunião promovida pelo CMDCA-Rio, com representações da sociedade civil e do Ministério Público
            do Trabalho, na direção do reordenamento das normativas municipais referentes aos critérios para
            concessão do registro.

                   Nesta reunião, dentre outros temas, foram discutidas as relações entre o trabalho esportivo
            e o trabalho artístico, especialmente no que se refere aos critérios para a participação de crianças e
            adolescentes, evidenciando ser necessário discutir os parâmetros para a execução dessas políticas,
            especialmente em relação ao planejamento das entidades no que refere a importância do viés
            educativo das atividades e a preservação da convivência familiar e comunitária.

                    Apesar do exposto, observa-se ainda um incipiente debate sobre o tema, sobretudo no
            que tange aos parâmetros e critérios a serem estabelecidos pelo CMDCA-Rio para a concessão
            dos registros de funcionamento dos programas de atendimento em regime de proteção e apoio
            socioeducativo em meio aberto, ainda que se considerando o viés da aprendizagem, tendo em
            vista que os termos das deliberações que regem esta modalidade de atendimento não abarcam as
            peculiaridades já mencionadas. Reforça-se neste cenário que a rede de atendimento e proteção da
            infância e juventude conta com programas e serviços socioeducativos diversos, que transitam por
            atividades educacionais, culturais, recreativas e artísticas até as de cunho esportivo, sendo as que
            se materializam por oficinas desportivas as de potencial ímpar à sensibilização e adesão do público
            adolescente. Dessa forma torna-se intrínseco, às agremiações que executam atividades esportivas
            de rendimento para crianças e adolescentes, o papel protetivo inerente aos programas e serviços
            que atuam no campo da prevenção das situações de vulnerabilidade e risco social às quais este
            público pode se encontrar exposto.


                      A partir do processo de assessoramento da equipe técnica do CAO Infância prestado
            ao longo do tempo no MPRJ pode-se entender que é indicado aos órgãos do controle social e
            deliberação  de  políticas  públicas  para  infância  e  adolescência  a  promoção  de  gestões  afetas  à
            elucidação de suas atribuições e competências frente às peculiaridades do trabalho esportivo de
            crianças e adolescentes. Consideram-se as prerrogativas que versam sobre a garantia de direitos
            deste público, sabidamente fragilizado quando da exposição às situações de afastamento do
            ambiente  familiar,  da  convivência  comunitária  e  a  inserção  precoce  na  lógica  do  mercado  de
            trabalho.





                                                                                                        144
   139   140   141   142   143   144   145   146   147   148   149