Page 42 - Experiências de atuação Pedagogia Psicologia Serviço Social
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Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
            na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes


            interferem na construção da subjetividade e a adequada intervenção da rede de proteção junto
            às crianças e adolescentes e suas famílias. Assim, a equipe tem apontado e problematizado os
            principais efeitos negativos sobre a produção de subjetividade a partir da omissão, inadequação
            e/ou inexistência de políticas públicas destinadas para a população infanto-juvenil e suas famílias
            em situação de possíveis violações de direitos. Desse modo, a equipe tem opinado tecnicamente
            sobre  as  relações  conflituosas  que  envolvem  os  casos  ora  apresentados,  subsidiando  a  opinião
            do promotor de justiça, ainda que muitas vezes as situações tenham sido atendidas pela rede
            de serviços. Contudo, a atuação da equipe técnica do CAO Infância e Juventude (eixo defesa dos
            direitos), nas avaliações dos casos individuais sobre possíveis ocorrências de violações de garantias
            previstas, difere do objetivo dos atores lotados nos equipamentos de promoção dos direitos,
            conforme exposto.

                   Para  desenvolver  tal  posicionamento  ético-político  no  MPRJ,  levamos  em  consideração
            a perspectiva sócio-histórica da Psicologia e a análise institucional, rompendo com o ideário
            do modelo clínico tradicional esperado. Desta forma, acreditamos que estamos contribuindo
            efetivamente para uma construção de alternativas para a garantia da qualidade de vida de um
            coletivo, decodificando e analisando as demandas que nos são direcionadas, transformando-as de
            acordo com o conhecimento teórico da profissão do psicólogo, compreendendo a demanda de
            modo contextualizado e coletivo.

                   Segundo  BOCK  (2003)  o  futuro  de  nossa  profissão  ainda  não  está  pronto,  e  para  isso  é
            necessário  construirmos  uma  realidade  profissional  retomando  o  histórico  excludente  “para
            superá-la  definitivamente”  (p.16).  Para  a  autora,  os  profissionais  têm  se  isentado  no  que  tange
            às discussões voltadas para os projetos sociais e para a problemática da desigualdade social.
            No decorrer dos anos, a Psicologia tem naturalizado um discurso que “explica” tais fenômenos
            sociais a partir de ideias construídas através do modelo clínico tradicional, tão difundido entre os
            profissionais, sem polemizar a conexão com o social.





                                   Nas  últimas  décadas,  as(os)  psicólogas(os)  vêm  ocupando  novos  espaços  de
                                   intervenção,  sendo  que,  por  vezes,  observa-se  a  dificuldade  destes  profissionais
                                   entre seguir os modelos tradicionais de Psicologia ou ousar experimentar e inventar
                                   novos modos de atuação, apostando na potência desta sensação de confusão como
                                   disparadora para interlocuções. (SILVA e CARVALHAES, 2016).





                   Compartilhamos ainda, do pensamento de MELLO e PATTO (2008),  quando  as autoras
            retratam a questão da elaboração dos laudos  psicológicos, problematizando que  em tais
            documentos, estamos nos distanciado cada vez mais do entendimento da complexidade e
            da gravidade de uma dinâmica familiar, oferecendo uma escuta apropriada para todos os
            envolvidos, e atentos para os seus direitos fundamentais e para as políticas públicas inexistentes
            ou executadas de maneira inadequada. No entanto, a história da Psicologia em interface com a
            Justiça tem demonstrado uma visão simplista da situação, oferecendo apenas conclusões sobre a
            personalidade de parte dos envolvidos, infundindo credibilidade na reprodução de estereótipos e
            de preconceitos, muitas vezes herdados pelo senso comum. É preciso trabalhar criticamente para
            inverter essas explicações “psicologizantes” e disciplinadoras.

                   Apesar da notória expansão do campo de atuação da Psicologia, é preciso repensar as
            práticas realizadas dentro de cada área do exercício profissional. No caso da Justiça, cada vez mais se
            tem produzido materiais que discutem e repensam as atribuições e competências do profissional,


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