Page 45 - Experiências de atuação Pedagogia Psicologia Serviço Social
P. 45

Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
            na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes


                                   mobilização e responsabilização. Além da implicação do poder público, também é
                                   importante o apoio que a criança recebe do núcleo familiar e de sua comunidade,
                                   que  devem  ser,  igualmente,  apoiados  por  programas  e  serviços.  Resumindo,  o
                                   impacto das consequências sobre as vidas das crianças não depende exclusivamente
                                   da ocorrência da violência em si, englobando, também, a existência, ou não, de
                                   retaguardas de suporte após a ocorrência do evento violento.




                   Sobre a efetiva intervenção da rede de proteção, Azambuja (2004) expõe que a partir da
            vigência da proteção integral à criança e ao adolescente, a organicidade do atendimento a essa
            população passa a arrolar diferentes políticas de prevenção e atendimento em casos de violações
            de direitos. Contudo, as análises dos casos individuais que nos são apresentados ilustram a
            problemática a ser enfrentada, visando o reordenamento das políticas públicas, principalmente
            objetivando atender o direito da efetiva proteção integral à população de crianças e adolescentes.



                                   A carência de investimentos na área da política de atendimento dos direitos
                                   da criança e do adolescente acaba por gerar, ao sistema de justiça, uma
                                   demanda considerável de situações que deveriam ser absorvidas por uma
                                   política  de prevenção primária, como  prevê o Estatuto da Criança e do
                                   Adolescente .
                                               4



                   Partindo dessas considerações, em linhas gerais, nosso trabalho junto ao Centro de Apoio
            Operacional das Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude (CAOPJIJ) do Ministério
            Público do Estado do Rio de Janeiro, tem como eixo central a assessoria técnica aos Promotores de
            Justiça, e nossa atuação tem sido demarcada pela reivindicação de políticas públicas voltadas para
            a população infanto-juvenil, principalmente tendo como norte os fundamentos teóricos, legais e
            filosóficos que respaldam nossa atuação profissional.

                   Apesar dos avanços que temos percebido no transcorrer de nossa atuação, cabe ressaltar
            que ainda há um longo caminho a percorrer para a construção de uma identidade profissional no
            Ministério Público calcada no compromisso social. Fugir dos estigmas que muitos profissionais
            de Psicologia carregam em diferentes áreas de atuação representa um grande desafio para tal
            transformação. Para isso, é preciso adaptar os saberes de nossa profissão com a realidade social que
            nos cerca e o passo para modificar a realidade é estranhar o instituído, buscando novas respostas
            e polemizando situações do cotidiano, como define BOCK, 1999:




                                   Assumir  um  compromisso  social  em  nossa  profissão  é  estar  voltado  para  uma
                                   intervenção  crítica  e  transformadora  de  nossas  condições  de  vida.  É  estar
                                   comprometido com a crítica desta realidade a partir da perspectiva de nossa ciência
                                   e de nossa profissão. É romper com 500 anos de desigualdade social que caracteriza
                                   a história brasileira, rompendo com um saber que oculta esta desigualdade atrás
                                   de conceitos e teorias naturalizadoras da realidade social. Assumir compromisso
                                   social em nossa prática é acreditar que só se fala do ser humano quando se fala das
                                   condições de vida que o determinam. (p. 327).





            4        Azambuja, Maria Regina Fay de. Violência sexual intrafamiliar: é possível proteger a criança? Porto alegre: Livraria do Advogado Editora,
            2004, p 60 e 61.


                                                                                                         45
   40   41   42   43   44   45   46   47   48   49   50