Page 13 - Experiências de atuação Pedagogia Psicologia Serviço Social
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Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
            na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes


            deslocamentos no processo de formação de conselheiras(os) e a fundamental proximidade com
            os movimentos sociais que compõem a rede de proteção a crianças e adolescentes.

                   Os textos evidenciam a escrita como lugar de pensamento e de proposições, a exemplo
            do que aconteceu durante a pandemia e das narrativas que foram empreendidas, contando de
            novas rotinas, por meio do tele trabalho, e continuidades no acompanhamento/ assessoramento
            técnico, fiscalizações e levantamento de informações pertinentes à execução das políticas públicas
            e interlocução com a população atendida. Isso lança o importante fazer de assessoramento
            interdisciplinar no MP na direção de um trabalho no âmbito das políticas públicas que enfrenta
            a democracia racista (Mbembe, 2017) e o racismo tanto estrutural quanto institucional (Almeida,
            2018),  que  marcam os  cotidianos.  O enquadre  sociopolítico  violento que  vivemos,  seja  em
            episódios mais sangrentos ou moleculares, fabrica também o sistema cisgênero (Rodovalho, 2017)
            e heteropatriarcal branco (Akotirene, 2018), a LGBTIfobia, o sexismo e a misoginia, bem como o
            capacitismo  (Schewe,  2020)  como  preconceito  com  a  deficiência,  entre  outras  violências.  Mas,
            como afirmou Butler (2015): “É precisamente porque se está imerso na violência que a luta existe,
            e que surge a possibilidade da não violência” (p. 241). Operar pela não violência implica manter no
            pensamento a apreensão da condição de igualdade em meio à precariedade, como propõe Butler
            (2015), o que nos leva a tentar recusar e romper com o enquadramento que diferencia entre vidas
            que são consideradas vivíveis e passíveis de luto e as que não são assim consideradas.

                   Com tal percepção, e sem isenção, convido leitoras e leitores a apreciarem esta obra coletiva
            que chega para ocupar um importante lugar na produção de conhecimento. Este livro tem grandes
            contribuições a oferecer, contrapondo-se à escassez de referências para atuação interprofissional
            de assessoramento ao MP no campo da infância e juventude e, com isso, abre caminhos para
            novas escritas que podem advir. Boas leituras!

                                                                          Rio de Janeiro, novembro de 2020.

                                                                                          Giovanna Marafon

                            Professora do Departamento de Ciências e Fundamentos da Educação da FEBF

                          Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da UERJ





            REFERÊNCIAS


            AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? Coleção Feminismos Plurais (Coordenação Djamila Ribeiro). Belo Horizonte:
            Letramento, 2018.
            ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Coleção Feminismos Plurais (Coordenação Djamila Ribeiro). Belo Horizonte:
            Letramento, 2018.
            BUTLER, Judith. A reivindicação da não violência. In: Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto? (Tradução Sergio
            Lamarão e Arnaldo Cunha). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015, p. 233-259.
            MBEMBE, Achille. A saída da democracia. In: Políticas da Inimizade. (Tradução Marta Lança). Lisboa: Antígona, 2017, p. 21-69.
            RODOVALHO, Amara Moira. O cis pelo trans. Revista de Estudos Feministas,  Florianópolis,  v. 25, n. 1, p. 365-373, 2017.
            SCHEWE, Lelia. “As deusas nos protejam dessas novas cruzadas”: Anahí Guedes de Mello, anticapacitismo feminista desde el
            Sur global. Revista Nómadas, Bogotá, n. 52, p. 215-226, 2020.

            Nota: Os conteúdos expressos nos prefácios dessa publicação são de exclusiva responsabilidade de suas respectivas autoras,
            não representando o posicionamento do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.





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