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Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
            na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes


                   Na  pesquisa  realizada  em  2013,  pelo  Centro  de  Defesa  da  Criança  e  do  Adolescente  -
            CEDECA Yves de Roussan, de Salvador, Bahia, os autores do trabalho entrevistaram diferentes
            atores envolvidos na prática esportiva de crianças e adolescentes, entre eles, dirigentes de clubes,
            que demonstra como se tornou um “negócio” para os clubes:


                                   A dificuldade maior, primeiro, é a competição, não do futebol em si, mas com as outras
                                   crianças, porque hoje todo o mundo quer ser jogador de futebol e, às vezes, tem 100
                                   ou 200 crianças tentando ocupar as poucas vagas oferecidas [...]. Outra dificuldade é
                                   que, como o futebol virou um grande negócio, os clubes, os empresários consideram
                                   o jovem como mercadoria, avaliando se futuramente aquele atleta poderá lhes dar
                                   lucros, portanto a avaliação é muito fria em relação ao negócio e, às vezes, não conta
                                   com os aspectos emocionais, o respeito às pessoas. (Entrevista com o dirigente de
                                   um clube de futebol- CEDECA YVES DE ROUSSAN, 2013, p.21)




                   A fala do dirigente corrobora com o cenário identificado por nossa equipe nas visitas técnicas
            aos clubes e escolinhas de futebol, onde é flagrante, a partir de vários aspectos, as violações de
            direitos das crianças e adolescentes em função da ênfase no viés mercadológico em detrimento
            ao direcionamento pedagógico.

                   Diante das questões apresentadas e considerando a experiência dos(as) profissionais do
            CAO Infância no assessoramento prestado aos promotores de justiça na capital fluminense, o que
            gerou a elaboração de relatórios técnicos, de vistorias e reuniões, nos últimos anos, elencamos a
            seguir considerações acerca dos principais desafios verificados para se garantir a proteção integral
            de crianças e adolescentes participantes de práticas desportivas de alto rendimento no futebol.




                2.  LEVANTAMENTO DOS RELATÓRIOS DE VISITAS TÉCNICAS

                    REALIZADAS ENTRE 2016 E 2019




                   Para formar os subsídios necessários à discussão acerca das implicações da inserção de
            crianças e adolescentes em atividades desportivas de rendimento em relação à garantia de
            direitos, os profissionais que subscrevem este artigo revisitaram documentos elaborados no curso
            do assessoramento técnico prestado aos promotores de justiça na última década, assegurando
            ainda  a  consulta  às  principais  normativas  afetas  à  Política  da  Infância  e  ao  desporto  nacional.
            Também se constituíram enquanto fonte ao aprimoramento do debate em tela, a realização de
            reuniões e diálogos entre os autores de forma sistemática, e destes com demais profissionais das
            áreas de Pedagogia, Psicologia e Serviço Social que integram a equipe técnica do CAO Infância
            e que participam ou participaram, enquanto assessores dos promotores de justiça, de incursões
            ministeriais.

                   Ao longo do ano de 2012 o assessoramento prestado para diferentes promotorias de justiça
            da capital em vistorias realizadas em clubes de futebol, sediados na capital fluminense e de grande
            expressão no cenário nacional, resultaram na elaboração de relatórios técnicos, dos quais foram
            extraídos aspectos centrais dos desafios a serem superados no que se refere à garantia de direitos
            de crianças e adolescentes que praticam futebol em categorias de base.




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