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Experiências de atuação da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social
            na defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes


                   Conforme expresso,  pensar no cuidado  integral de mulheres nesta situação demanda
            refletir sobre as particularidades da discussão sobre os papeis de gênero, bem como aos aspectos
            relacionados  à  condição  socioeconômica,  raça/cor  e  geração.  Por  este  ângulo,  ainda  devem  ser
            consideradas as relações de poder que atravessam a realidade social, o lugar que essa mulher ocupa
            na sociedade e a precariedade da rede socioassistencial, que deveria garantir condições de cuidado
            de saúde, moradia, trabalho, entre outros suportes inerentes a sobrevivência de (a) cidadã (o).


                   A partir dessa compreensão, os profissionais da equipe técnica que assessoram os Promotores
            de Justiça da Infância e Juventude na reunião do Fórum destacam a importância da articulação entre
            os serviços, do mapeamento e do conhecimento do território no qual as mulheres estão inseridas.
            Ainda é reforçado o lugar reservado ao cuidado da saúde em que esta deve ser vista em suas múltiplas
            dimensões e demandas sociais, econômicas, laborais, familiares e subjetivas, compondo uma leitura
            das necessidades em saúde, em seu conceito ampliado e não na concepção restritiva. Verifica-se
            que hoje essas mulheres raramente são assistidas em sua totalidade.

                   Neste panorama, observamos que há necessidade de se construir respostas complexas,
            resolutivas e que garantam a integralidade da atenção, sobretudo em uma sociedade na qual a
            violência contra a mulher e o uso problemático de drogas se apresenta como demandas para a rede
            de saúde. Fatores que geralmente impedem que mães pretas periféricas vivenciem a maternidade
            em sua plenitude, arriscando suas vidas na procura por parteiras, ou optam pelo aborto, pois não
            querem repetir ciclos de violência e pobreza que vêm enfrentando.





                3.  DESAFIOS E PROPOSTAS PARA A PROTEÇÃO DE MULHERES EM

                    SITUAÇÃO DE RUA GESTANTES E/OU COM SEUS BEBÊS




                   Nas reuniões do Fórum, conforme a apresentação anterior da complexidade deste cenário
            que envolve as mulheres que vivem nas ruas e que fazem uso de drogas, são registrados pelos
            profissionais, diferentes obstáculos para a garantia do direito à convivência familiar da mãe com seu
            bebê. Os entraves identificados no atendimento e as preocupações com a articulação e integração
            da rede de serviços estão no centro do desalinhamento.

                   É válido lembrar que as políticas setoriais brasileiras têm sido desencontradas, com muitas
            ações desintegradas e com programas e serviços desenvolvidos por diferentes secretarias e setores
            que não se comunicam. Muitas delas têm caráter assistencialista ou tutelar, gerando incapacidade
            das ações de alteração da situação de pobreza e exclusão social.

                   A dificuldade para a garantia do acompanhamento adequado as mulheres que vivem nas
            ruas e fazem uso de drogas em seus espaços de interação social, ocorre, na maioria das vezes,
            em função da precarização dos equipamentos de saúde e assistência social, devido à ausência
            de  recursos  financeiros,  a  escassez  e  a  rotatividade  de  profissionais  e  fragilidade  dos  vínculos
            empregatícios.  São  realidades  a  serem  enfrentadas,  situações  que  dificultam  e  interferem  no
            conhecimento das vulnerabilidades aos quais estas mulheres estão expostas e que interferem
            nos seus processos de cuidado em saúde. Este cenário ainda prejudica o trabalho em equipe
            multiprofissional, a intersetorialidade, as redes de atenção consideradas estratégias fundamentais
            para concretizar e qualificar mudanças no cuidado à saúde das pessoas, que pouco atende as
            demandas das expressões da questão social.


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